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Crítica: Mia Madre

Mia madre, filme de produção ítalo-francesa, conta a história de Margherita (vivida pela Margherita Buy), diretora de cinema que ao rodar o próprio filme tem que lidar com Barry Huggins (John Turturro), um excêntrico ator. Em paralelo à conturbada vida profissional, Margherita se preocupa com a eminente morte da mãe, Ada (Guilia Lazzarini). Na delicada situação familiar ela tem o apoio da filha e do irmão Giovanni (Nanni Moretti).

Moretti, aliás, além de atuar, dirige e é o corroteirista deste filme. E ele nos premia com um turbilhão de emoções: o alívio cômico aqui honra essa alcunha, pois vem acompanhando de cenas que facilmente nos levam às lágrimas. O ritmo do filme às vezes chega a incomodar, mas no bom sentido. Rimos, muitas vezes de gargalhar (principalmente graças à atuação do Turturro) e damos longos suspiros emocionados ficando imediatamente com um ar mais sério. O fato é: nunca caindo para o tédio, vivemos intensamente aquilo que nos é mostrado.

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A metalinguagem presente em Mia Madre já se estabelece na orientação de Margherita para atores que ela dirige, algo na linha do: “quero ver o ator que interpreta o personagem, ambos ator e personagem, devem aparecer em tela para mim”. A ironia se concretiza não só pela Margherita ter o nome da própria intérprete e dela ser quase um alter ego do diretor Nanni Moretti, mas também pelo personagem Barry Huggins. Ele, por vezes, “encena” situações mesmo fora do set e quando da atuação é bem mais caricato que deveria (vide a cena em que ele dirige um carro).

Vale um destaque especial para as atuações. Margherita Buy conduz a trama, praticamente o tempo todo em tela, sentimos perfeitamente os conflitos explicitados e percebemos que há camadas mais profundas de dilemas emocionais – algo que fica evidenciado em passagens um tanto lúdicas, muitas vezes sendo apenas um simulacro da realidade e se confundindo com ela. Guilia Lazzarini imprime ótimas característica à mãe da protagonista: mescla um desnorteamento temporal devido à doença e ao mesmo tempo demostra uma lucidez ao se preocupar com a educação da neta, além de apresentar uma sinceridade quase infantil (quando, por exemplo, reclama das visitas). Moretti dá uma interpretação um pouco mais contida, servido de contrapeso à Margherita, mas longe de ser algo frio e distante, a presença dele é essencial. Até mesmo a jovem Beatrice Mancini, que faz a filha da protagonista, coloca, na medida das possibilidades dela, uma emoção necessária e em tom bem acertado não devendo nada aos atores mais experientes.

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Contudo vale um capítulo à parte para o Barry Huggins. Ele brilhantemente nos traz à tela um ator mimado, que se acha muito mais do que é – a cena em que ele conta que recusou um papel em um filme do Stanley Kubrick é impagável. Não conseguindo decorar as próprias falas ele apela para um cômico improviso que tende a não funcionar causando problemas no set. A virada do personagem, em um jantar familiar, dá uma carga muito mais forte e até inesperada ao personagem.

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O roteiro de Mia Madre é, não só, brilhantemente conduzido pela direção do Moretti, mas cresce muito pela edição, que como mencionei antes, brinca com as nossas sensações. Fazendo com que a gente sinta o drama daqueles que ali estão. A carga dramática aqui presente é tão forte preferimos sair do cinema com a sensação de que vimos uma comédia, mesmo estando tomados pelas relações daquelas figuras que acabamos de conhecer.

Algo no humor do filme nos remete ao genial Woody Allen, talvez seja o ritmo das piadas, confusão mental da protagonista e um certo ar caricatural. Já, na outra ponta, temo um quê de “Sabor da Vida”, filme de produção japonesa/alemã/francesa, que tem a relação de um gerente de uma padaria com uma senhora que mescla problemas de saúde e uma vividez ímpar.

Mia Madre, obra que estreou no Brasil dia 17 de dezembro de 2015, ainda está em cartaz em algumas poucas salas. Vale muito conferir já que é excelente nos sob à luz de três prismas: a delicadeza emocional, o humor sincero e uma metalinguagem que vai muito além do óbvio.

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