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Artigo

“Transparent” – (2014)

Dialogar sobre gênero, sexualidade e religião nunca é fácil, porém, agradável quando temos como luz a beleza que Jill Soloway nos dá quando criou Transparent. O movimento narrativo da série é dramático e cômico, e seu roteiro, reitera e reforça uma natureza que nada mais é do que natural do ser humano, ou seja: ser humano.

O acontecimento é situado na vida dos Pffeferman’s. Após longa data vivendo como um homem, Mort Pffeferman – interpretado de forma tão simples e bela pelo ator Jeffrey Tambor –  decidi abrir seu coração para seus filhos e confidenciar seu segredo de anos, o qual somente sua esposa tinha conhecimento. O espanto de sua companheira de anos ao saber de seu desejo em vestir-se como uma mulher à princípio foi um choque, contudo, gradativamente o companheirismo e a amizade dos dois acabou sendo a sustenção da relação dos dois, visto que era real. Penosa essa decisão de abrir-se para os filhos após tanto tempo e é possível sentir na pele o que Mort, agora Maura, passa com tal angústia.

Um dos trechos mais profundos que reparei ser o toque de confidência de Maura para um de seus filhos quando perguntada se a partir daquele momento ela iria vestir-se como mulher, e ela de forma sincera, simplesmente diz que passou a maior parte da vida vestindo-se como homem; após esse relato nos sentimos como quando lemos algo muito interessante num livro e levantamos a cabeça para pensar sobre  o que fora lido (É raro isso acontecer). Na verdade Mort nunca existiu, ou, dizer nunca talvez seja um pouco de julgamento, mas tenho a percepção que pouco dele viveu, já que os conflitos consigo mesmo são concretos, mesmo que sutis, à quem assiste a série.

A primeira temporada é de fato um balde de água fria a quem não respeita ou ainda não se desenraizou de certos valores que atualmente, gradualmente, estão virando poeira numa estrada já asfaltada. A decisão de Mort ao realmente se expor e viver o que realmente ele é, durante os episódios, traz consigo uma calma, uma sabedoria tamanha já que é possível enxergar a certeza em seus olhos do que quer, de seus desejos, de suas vontades em vida. Sarah, sua filha mais velha, também decidi fazer uma escolha importante quando vê a força que seu pai teve quando decidiu contar sobre sua sexualidade. Após anos casada, declara seu amor à Tammy, um amor juvenil que não deixou o tempo fazer dele uma lembrança. Com o suporte da coragem e do afastamento do medo como comandante de sua vida, Sarah se deixou levar pelo seu coração agora como adulta e se separa do marido, mas o companheirismo dos dois é como o de seus pais, e ainda persistiu após tal rompimento (Tal fato é um dos que me trazem à lembrança que a série é linda e que tem que ser vista).

A transparência, pois, é um dos pontos-chave dessa história. Ser verdadeiro consigo mesmo, independente do que falam, dizem ou querem que você seja.

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