Crítica: Ponte dos Espiões
Um filme dirigido por Steven Spielberg, estrelado por Tom Hanks e com roteiro dos irmãos Ethan e Joel Coen definitivamente passaria longe de ser ruim. Eis que temos, portanto, um longa eficiente, humano e engraçado, ainda que o diretor insista em algumas práticas desnecessárias ou exageradas. O filme conta a história de James Donovan (Tom Hanks), um advogado que lida com questões de seguros, mas passa a ajudar o governo americano em negociações com os soviéticos em plena Guerra Fria, após fazer um interessante trabalho de defesa de um suposto espião russo.
“Ponte dos Espiões” bem poderia ser um filme brilhante. Conta uma história interessante – e real – sobre a Guerra Fria, utiliza-se de elementos bem elaborados e passa uma bela mensagem. No entanto, minha surpresa foi sair do filme com questionamentos acerca das escolhas do diretor. Seria elas escolhas interessantes ou problemas – ou as duas coisas?
A fotografia de Janusz Kaminski foi muito feliz e criou um ambiente que combina com a trama e ainda lembra os filmes noir, mas incomoda a forma quase clichê com que ele trata a Berlim Oriental (dominada pelos soviéticos): fria demais, gélida demais, enfatizando muito o fato de ser um lugar quase vazio e abandonado. A luz pálida que ilumina diversas salas em que o protagonista se reúne com outros é interessante, ainda que pareça ser uma escolha sem significado: seria só para, também, dar um clima noir e nada mais? Corroborando com uma imagem bastante negativa dos “comunistas”, o longa também é bastante nacionalista, característica que não espanta mais ninguém nos filmes de Spielberg.
Embora o roteiro seja um dos pontos fortes da obra, há elementos que causam questionamentos. A trama paralela do ajudante de James Donovan é curiosa no começo do filme e cria uma situação cômica – entre tantas outras muito bem elaboradas – mas que perde força quando o personagem é completamente abandonado pela trama. Enquanto a trama é bastante explicativa e sucinta em alguns momentos, em outros ela parece subestimar o espectador: como quando Donovan propõe chamar os soviéticos de russos “apenas para facilitar” ou quando reclama dos longos nomes de países dados pelos “comunistas”, quase que pedindo desculpas ao público por dificultar o entendimento de algumas informações políticas.
Por fim, o roteiro tem cenas algumas finais tão melodramáticas que dão aflição. Afinal, qual a mensagem que Spielberg quis passar ao mostrar crianças pulando grades nos Estados Unidos para fazer paralelo com os que pulavam o muro de Berlim e eram metralhados? Sem falar na senhora que transmite olhares diferentes no meio e no fim do filme, de forma piegas e forçada.
Ainda assim, trata-se de um filme rico e muito bem orquestrado: se tem uma coisa que Spielberg sabe fazer é “passear” com sua câmera nos ambientes, dando fluidez à narrativa, até mesmo nas imagens que mostram o piloto americano sendo condenado na União Soviética – ainda que em um cenário que não poderia ser mais clichê para representar o poderio socialista.
Por fim, após tantas palavras a respeito da trama, faltam adjetivos para caracterizar a atuação de Tom Hanks. Absolutamente impecável na condução de seu personagem, Hanks une energia e tranquilidade, firmeza e emoção, justiça e habilidades de negociação de maneira não apenas eficiente, mas impactante e emocionante, sem jamais soar piegas.
Assim, Spielberg não derrapa como fez em “Lincoln” e “Cavalo de Guerra”, nem acrescenta o longa à sua grande lista de obras-primas, mas conclui um trabalho eficiente.
3,5/5