Entrevista: Gustavo Rosa de Moura, diretor do documentário “Piadeiros”
Diretor do documentário “Piadeiros“, que chega aos cinemas no dia 19 de novembro em diversas cidades do Brasil, Gustavo Rosa de Moura é mais um dos muitos cineastas que fazem acontecer no mercado audiovisual brasileiro, hoje tão rico e em constante crescimento.
Com documentários, curtas e projetos para a TV, Gustavo já prepara seu primeiro longa de ficção, mas não sem antes exibir “Piadeiros“. O longa, que percorreu mais de 40 cidades em todo o Brasil – além de de Portugal – ouve piadas, histórias e causos bem-humorados. Assim, “Piadeiros” se estabelece como um “road movie da risada”, com muita gente boa de contar piada nas ruas, praças, bares e mercados.
O documentário é produção da Mira Filmes, que foi fundada em 2011 por Gustavo, junto com Carmem Maia e Marina Person.
Acompanhe abaixo a entrevista que Gustavo concedeu ao Cinem(ação), em que fala sobre os desafios do documentário, algumas curiosidades, além de seus próximos passos como cineasta:
Como surgiu a ideia de fazer o “Piadeiros”?
Surgiu um dia na estrada, numa viagem entre Rio e São Paulo, enquanto eu conversava com alguns amigos sobre humor. Na realidade, eu acho que o humor, em suas diferentes formas de manifestação, é sempre um aspecto muito importante de qualquer cultura e pode revelar uma série de coisas interessantes, tanto do ponto de vista cultural como social.
Além disso, sempre me interessou a questão da graça em si, do que faz algo ou alguém ser ou não engraçado. E a piada é algo bem interessante nesse sentido porque a mesma “história” pode ser ou não engraçada dependendo de uma série de fatores como quem conta, como conta, pra quem conta, quando conta. Como tudo isso me interessava, achei que valia a pena fazer esse documentário.
Baseado na experiência da produção do “Piadeiros”, você sentiu algum tipo de diferença entre as regiões do Brasil, ou o país é bastante parecido no “quesito piada”?
Sim, muitas. Cada um é de um jeito, nenhum lugar é igual ao outro. Por outro lado, são todos muito brasileiros. Enfim, são diferentes e parecidos ao mesmo tempo. Todos falam português, mas de maneira completamente diferente. Acho que isso fica bem claro no filme.
Como foi a procura pelos personagens do documentário?
A pesquisa teve dois momentos distintos. Primeiramente, a gente contratou pesquisadores e produtores locais para procurar pessoas comuns – não humoristas – que tivessem essa fama de piadistas, de saber contar piada bem, de gostar de contar piada por aí. Mas a pesquisa deveria detectar, sobretudo, pequenas cidades onde houvesse essa “tradição”, onde houvesse uma espécie de “propensão” a ter piadeiros. Isso porque eu queria incluir a busca no filme, o processo de achar os piadeiros através da indicação das pessoas.
O segundo momento está registrado no filme. É a equipe de filmagem na estrada, nas cidades, procurando os piadeiros pelas ruas, bares, mercados etc. Normalmente, a gente chegava em alguém já “pré-pesquisado” e, a partir dali, ia seguindo a busca a partir de indicações dessa mesma pessoa ou de outras por ali. E o resultado era sempre incerto. Às vezes um personagem “pré-pesquisado” rendia bastante, às vezes não rendia nada. Às vezes a busca encontrava piadeiros bons, às vezes não. Ou seja, a sorte e o acaso sempre foram componentes fundamentais desse projeto.
Como eu costumo dizer, o filme é muito mais esse processo de busca do que um apanhado de boas piadas. É realmente uma pesquisa itinerante, um road-movie da risada.
Durante a produção do documentário, quais foram os principais desafios?
O filme mostra bem o processo, inclusive as dificuldades. Não é nem um pouco fácil você chegar com uma câmera diante de alguém e pedir para que essa pessoa conte uma piada. As melhores piadas surgem meio do nada, em situações espontâneas e específicas, que são difíceis de se capturar com um câmera. É completamente diferente de um depoimento convencional, uma entrevista. Mas acho que a gente conseguiu alguns resultados interessantes ao longo do processo, especificamente com relação a isso. Com um personagem em particular, o Araújo, acredito que tenhamos conseguido captar essa espontaneidade, esse jeito autenticamente piadeiro de ser. As piadas com ele iam saindo naturalmente, sem eu pedir, sem ele distinguir o que era piada do que era conversa.
Outro grande desafio foi a montagem. A gente tinha uma quantidade enorme de material e foi muito difícil chegar na duração atual. Muita coisa legal acabou ficando de fora.
Na montagem final, houve algum corte particularmente difícil de fazer?
Sim, muitos. Até o último momento fomos fazendo cortes. Eu não queria fazer um filme muito longo, por uma série de razões. Além disso, há coisas que são muito interessantes isoladamente mas que acabam não funcionando num contexto específico.
Da ideia inicial de fazer o documentário até finalizar a coleta dos depoimentos, o que mudou? Vocês encontraram algo que não esperavam, ou conseguiram algum resultado diferente do planejado?
Sim, tudo mudou muito. Eu achava, por exemplo, que ia encontrar mais piadeiros, mais piadas. Eu achava que muita coisa ia ser diferente do que foi. E essa é a beleza da coisa. Quando a gente faz um documentário, a gente não sabe onde vai chegar. Eu inclusive acho que se você já sabe tudo, já prevê o resultado, não há porque fazer. Melhor escrever uma tese, um artigo, um livro ou fazer uma matéria de TV. O documentário de cinema para mim é sempre um processo aberto, uma descoberta. O filme é sempre o resultado do encontro de uma equipe de filmagem com uma determinada realidade, com uma determinada coisa. E nunca é o retrato da realidade nem da coisa. É o retrato do encontro.
Em quantas salas o filme estreia? Quais as expectativas?
O filme estreia no dia 19 de novembro em 10 salas aproximadamente, espalhadas pelas principais capitais do país. Mas faremos também um trabalho de mobilização social e de exibição em circuitos alternativos como escolas, universidades, praças, casas de cultura etc. A ideia é levar o filme para muito além das salas de cinema comercias, incluindo cidades onde sequer há salas de cinema.
Você também já gravou um longa de ficção, ainda inédito. O que mais te interessa na ficção? E o que ainda encanta nos documentários?
Não sei dizer ao certo o que mais me interessa na ficção, mas posso dizer que tenho hoje muitos projetos de ficção. Mais até do que de documentários. Atualmente estou trabalhando em quatro roteiros de ficção, bem diferentes entre si.
O Brasil vive um excelente momento no audiovisual. O que você acha que deve ser o próximo passo?
Em termos de Brasil, não sei dizer ao certo. Sei que estamos num bom caminho, mas com muita coisa ainda por fazer.
Os meus próximos passos são continuar produzindo e dirigindo. Tenho uma produtora, a Mira Filmes, e estamos tocando aqui vários projetos, em diferentes estágios. Acabamos de estrear uma série na Warner, chamada “Quero ter um milhão de amigos”. Fizemos também um telefilme, chamado “Marulho”, que estreia esse ano ainda na TV Cultura. Em dezembro lançaremos o filme “Califórnia”, da Marina Person. No ano que vem o “Canção da Volta”, meu primeiro longa de ficção.
Meus próximos projetos como diretor são três adaptações literárias e um roteiro original. Ainda não sei qual virá primeiro.