“Obrigado Por Fumar” – (2005)
O que o leitor pode ver no filme que aqui apresento é um tratado de patifaria intelectual, isto é, uma obra cinematográfica a qual apresenta um enredo pertinente à malícia humana. A partir de uma inovação acerca do argumento e da retórica, Nick Naylor é um debatedor capcioso, inteligente, desonesto e procura desmoralizar ou confundir seu oponente para fazer com que o verdadeiro pareça falso e o falso verdadeiro. Não entrarei na discussão do que é considerado verdade ou não, se não teria eu que permear toda a história da filosofia, por partes, até chegar a nenhuma resolução prática ou palpável.
Nick Naylor (Aaron Eckhart) é um representante e porta voz dos cigarros. Ao mesmo tempo que ele seduz seus ouvintes com as palavras, tenta ser um modelo ideal de pai para seu filho ainda adolescente, porém bastante inteligente. É curioso esse talento que Nick tem com o discurso, ele percebe que não adianta ou não há a necessidade dele estar certo quando diz algo, e pelo contrário, basta somente provar para seu ouvinte que ele está errado e assim está vencida a batalha. Segundo Michel Foucault: ” […] se o discurso verdadeiro não é mais, com efeito, desde os gregos, aquele que responde ao desejo ou aquele que exerce o poder, na vontade de verdade, na vontade de dizer esse discurso verdadeiro, o que está em jogo, senão o desejo e o poder?” O desejo e o poder de conquistar quem ouve é o resultado esperado daquele que fala. A moral e a ética não ganham lugar, não existem nesse contexto.
Entretanto, a partir do momento que o pessoal invade o profissional, as lacunas que antes estavam abertas e sem recheio acabam por ser preenchidas de questionamentos e dúvidas. É possível perceber a preocupação de Nick quando viaja para California à trabalho e leva seu filho consigo, porém há uma relação peculiar entre esses dois personagens, eles se entendem através do olhar e do silêncio. Por mais que seja um jovem, ele aceita o que o pai faz e o admira, o tem como modelo, acredita no que diz tanto que ganha confiança para dizer o que pensa à frente de seus colegas num trabalho de escola. A influência de Nick certamente é muito importante pra ele.
Embora, independente de concordar ou não com que ele faz, existem algumas considerações que no filme aparecem que podem nos fazer pensar. Principalmente, uma imagem de ‘morte’ no maço de cigarro, ou seja, uma mensagem de “não fume”, e o que Nick argumenta é que tendo ou não esse emblema da representação do que pode acontecer se a pessoa fumar, parte de uma decisão dela se quer ou não fazê-lo, entretanto, sabemos que a nicotina vicia e para quem já fuma, é difícil parar. Há um jogo de provocações e carisma na argumentação daquele que só pensa em vencer o discurso, seu objetivo é se afastar dos fatos reais e ficar só com a ilusão, com a imaginação e com o sorriso no rosto, o que importa é convencer.