Crítica: Entrando Numa Roubada
Não é à toa que eu me lembrei do filme “2 Coelhos” ao longo da projeção de “Entrando Numa Roubada” – que chegou a ser divulgado como “A Estrada do Diabo“. Afinal, o filme de André Moraes é basicamente a continuidade de dois tipos de características do cinema de ação “para jovens” no Brasil (acho que acabei de criar um novo subgênero): a linguagem rápida ao estilho Guy Ritchie e a narração em off explicando os personagens envolvidos na trama.
Não que esta comédia – ácida e cínica, mas ainda sim comédia – siga à risca toda a receita que Afonso Poyart seguiu, mas André Moraes também estreia em longas com bastante segurança na direção: os cortes para apresentar o “vilão” da história, a câmera rápida e a fotografia clara, porém soturna em certos momentos, fazem do conjunto da obra um produto bastante interessante.
Em tempos de comédias escrachadas e cinema independente autoral no Brasil, é sempre bom ver um filme de gênero como este. Na trama, acompanhamos um grupo de amigos – vividos por Deborah Secco, Bruno Torres, Lúcio Mauro Filho, Júlio Andrade e Ana Carolina Machado – que realizou um filme cujo fracasso os levou a levarem vidas problemáticas, até que surge a oportunidade de fazerem um filme com apenas 100 mil reais. Nisso, eles veem uma nova chance de voltar à carreira antiga, embora um deles queira algo diferente disso.
Com uma interessante metalinguagem na trama, já que o “filme dentro do filme” é uma sátira do audiovisual no Brasil, “Entrando Numa Roubada” consegue prender o espectador em seus rápidos 77 minutos de duração, e ainda traz um interessante momento catártico para o público, em que o personagem de Marcos Veras está envolvido.
Ainda assim, existem momentos que exigem um esforço muito grande de suspensão da descrença. Dependendo de como o espectador encara, tudo é extremamente impossível de acontecer. Mas muitos podem aceitar que a comicidade da história seja exatamente o impossível, o absurdo na própria essência da trama, criado certamente com o objetivo de desenvolver as situações de humor.
Desta forma, “Entrando Numa Roubada” mistura acidez crítica, humor cínico e ação soturna em uma espécie de comédia esquisita – e que pode desagradar muita gente.
3/5