Mom – Parte 2: Conhecendo Christy Plunkett
Esta é a parte dois de dois de um artigo sobre o seriado Mom, da CBS e sua protagonista Christy Plunkett. (Parte 01 aqui)
Ele foi originalmente escrito por mim para a disciplina “Narrativas e Construção de Personagem”, administrada pela doutoranda em Comunicação Social Jéssica Neri, no curso de graduação Estudos de Mídia, da Universidade Federal Fluminense.
Adaptei o seu conteúdo para a web, de maneira a ficar mais fluído e interessante para o público em geral.
Para maiores informações sobre fonte, bibliografia, etc, é só adicionar um comentário no final da página.
Protagonista
Christy é a personagem central da série, apesar da drama possuir outros personagens de destaque, fica evidente o quanto ela é vital para a narrativa. É ela que move o seriado. Na contramão do que a comédia trás ao personagem, em Mom, os mesmos não são reduzidos a tipos e arquétipos de comportamento, sendo possível ver isso em Christy. Nos episódios lançados até agora, fica evidente a evolução da personagem e como ela não é apenas um estereótipo da mãe bêbada solteira arrependida (se é que esse estereótipo existe). Os passos entre a estreia da primeira temporada até o encerramento da segunda, mostram como não só os gestos da personagem são evidenciados, mas também seus sentimentos, conflitos e pensamentos importam para a continuidade e fluidez da história.
Como responsável pelo caminhar do enredo e dos arcos do show televisivo, é natural que apareça a imagem do antagonista. Em todo roteiro existe o que chamamos de conflito, o elemento (personagens ou condições adversas como doenças, ataques, coincidências, etc.) que faz a narrativa prosseguir e se tornar interessante ao receptor, que pode chegar na forma do antagonista, o personagem que impede o herói, ou protagonista, de atingir os seus objetivos e prosseguir, podendo o personagem principal ultrapassar tais objetivos ou não.
Comumente, o antagonista é chamado de vilão, ser maligno, naturalmente mal-intencionado que sem motivos muito aprofundados ataca o mocinho. Mas apesar de poderem ser a mesma coisa, um antagonista nem sempre é o vilão. Por exemplo, no aclamado filme de animação Frozen, Anna pode ser considerada a antagonista do enredo, sendo a personagem que fica entre a protagonista, Elsa, e a realização de seus objetivos – considerando que o objetivo inicial da então rainha era esconder os seus poderes e se manter no isolamento-, mas claro que o filme tem um enredo extremamente complexo e não podemos reduzir o filme, ou a relação entre as personagens, a somente isso. Na sitcom em que nosso objeto de análise está inserido, vários personagens assumem esse papel, mas principalmente Bonnie, que representa tudo que a personagem principal não quer ser e fazer. Christy se vê em situações que havia prometido a si mesma não passar e até existem momentos que sua mãe não faz nada de errado, mas na concepção da protagonista, essa é a pessoa que a impede de fazer tudo o que queria fazer.
O que também é um desenrolar interessante, quem assiste consegue observar a tendência de Christy para a auto-sabotagem em diversas situações. Então, nessa perspectiva, o antagonista do protagonista é… o próprio protagonista, visto que seus desvios não o permitem chegar onde ele quer. O maior antagonista de Christy é a própria Christy e seu desafio é se livrar de seus desvios para não se tornar a própria mãe.
Por que rimos das desgraças de Christy Plunkett?
A comicidade de um personagem não vem dele mesmo, mas sim das oportunidades que lhe foram negadas. Em outras palavras, não é apenas Christy que é engraçada, com suas reações e trejeitos perante as situações que lhe são propostas, mas também as tragédias que acontecem a ela e causam tais reações. Para exemplificar, é por isso que o quadro “Vídeos Cassetadas”, do programa televisivo “Domingão do Faustão” (Rede Globo), está no ar a vinte e seis anos: é engraçado ver pessoas em momentos infortúnios, é engraçado ver Christy servindo os clientes de um restaurante aos prantos, é engraçado ver Bonnie pulando quintais para fugir da polícia, etc.
Contudo, com o decorrer do tempo, as mazelas passadas pela protagonista deixam de ser engraçadas e passam a tocar o telespectador. O final da segunda temporada traz Bonnie tentando recuperar a confiança da filha depois de uma recaída (consumo de drogas), enquanto Christy ainda tem que lidar com o seu pequeno filho querendo ir morar com o pai. É difícil não ter empatia a isso e é de quebrar o coração. Ainda assim, o show se mantém na “dramédia” e consegue arrancar risadas do publico. O espectador chora com o afastamento de mãe e filho, mas também ri com as alucinações de Bonnie conversando com Jesus Cristo, ou com seus clones, versão anjinho e versão diabinho.
Isso acontece porque o espectador deixa de “rir de” para “rir com”. No começo do seriado é apresentado um personagem unilateral, quase estereotipado, e com o decorrer da narrativa até o final emocionante da segunda temporada, tal personagem vai evoluindo, sendo mais humanizado. Logo, mais propenso à empatia e a compaixão e deixando também o publico mais ligado a ele, seja através do riso ou do choro. Christy se torna a fonte da tristeza e da reflexão, trazendo com o show temas como alcoolismo, gravidez precoce, restauração de laços familiares… Mas trás também a alegria e o devaneio através de sua postura em relação a tudo isso.
Conclusão
A partir da análise feita, em duas partes, pode-se concluir que personagens do gênero cômico podem crescer no decorrer da drama, como exemplificado através de Christy. Mesmo o seriado sendo um misto de comédia e drama, o show mostra muitos códigos e regras do primeiro, sendo o principal gênero seguido.
A personagem consegue driblar as adversidades e os antagonistas (quase sempre), e evoluir no processo. Quer dizer, ela continua sendo uma ex-stripper viciada em bebidas, drogas e jogos de azar, mas também se tornou uma mãe acolhedora, compreensiva, ainda um pouco explosiva, só que agora com a experiência e sabedoria acumulada para lidar com a situação. Seus desvios continuam de extrema importância para a construção do personagem e agora contam com características que a tornam mais humana e alcançável, de uma maneira boa.
Nesse processo, os outros personagens se transformam também, o que possibilita o desenvolvimento mutuo entre eles e o andar da história. Agora, o que será da personagem da terceira temporada em diante é um mistério, com as inúmeras possibilidades que os elementos citados acima permitem. Mas mesmo assim, o espectador pode contar com os mesmos gestos caricaturais da protagonista. Christy Plunkett vai continuar sendo Christy Plunkett, só que agora com objetivos mais claros e sabendo o caminho para chegar até eles, que no fim das contas e o que o plot geral do seriado sugere, é apenas ser um exemplo e uma boa mãe para seus filhos.