"Homem Irracional" - 2015
Artigo

“Homem Irracional” – 2015

Dialogar com o simples não é fácil. Tratar de um tema que geralmente é rotulado como dramático ou sério de uma forma diferente, isto é, com humor e sarcasmo, posso dizer que é uma das marcas do artista norte americano Woody Allen.

Homem Irracional discorre a respeito das paixões humanas, do que nos move, do que nos apetece, do que nos faz sermos quem somos e o que nos traz vida e sentido a ela. Não é possível definir se a trama é uma comédia, um suspense, um terror. O crucial é a forma como o diretor lida com os acontecimentos e os organiza num lugar nomeado como “normal”, mesmo o fazendo de maneira crítica. Tem-se como centro da história um professor de filosofia (Joaquin Phoenix), que depressivo e alcoólatra apenas narra suas aulas com um certo desprezo e infelicidade, porém, é considerado um homem, devido a sua reputação, bonito, sensual e charmoso; tanto que além de se envolver com uma colega de trabalho (Parker Posey), acaba flertando com uma de suas alunas, Jill (Emma Stone).

Abe, o professor infeliz e conquistador, não tem muito pelo que sorrir, contudo quando numa lanchonete ouve numa mesa ao lado sussurros de uma história triste sobre uma mulher que possivelmente perderia a guarda de suas crianças para o marido o qual não dava a mínima para eles, assim como, não era considerado um bom pai, e além disso, tudo aconteceria porque seu ex-marido tinha uma amizade com um juiz da cidade, o qual delinearia o fim dessa saga, algo definitivamente acontece. O envolvimento de Abe com o enredo foi o torpor de todo o ar necessário para que seu coração batesse mais forte e sua corrente sanguínea o trouxesse à vida novamente: era preciso matar o juiz. A solução, então, seria o crime!

Muitos caminhos ilusórios são trilhados no decorrer de Homem Irracional. A personalidade de Abe a qual reflete uma certa melancolia se dá pela perda de um grande amigo no Iraque, entretanto, não há muita informação acerca desse acontecimento. O modo como ele lida com isso transparece como um sentimento de perda, mas não ao ponto de permitir uma definição de caráter do personagem. O mais curioso desse filme é o modo sutil e cômico com que toda trama acontece, principalmente essa mirabolante ideia de assassinar um juiz para que assim o “mundo se torne melhor” ou bem como para ajudar uma mulher que ele não conhece, e por isso, em sua cabeça, o crime seria perfeito. A trilha sonora não deixa de ser belíssima e contagiante, ela nos leva para lugares totalmente distintos e incertos, já que levando em conta o teor da narrativa, a qual se rodeia em torno da ideia de um assassinato, nada do usual ou corriqueiro numa situação dessas –  como sons e uma trilha suspense para que o espectador se atenha ao clima de tudo aquilo que está acontecendo, deixa de ser o foco, e em contrapartida o que ocorre é o oposto: temos jazz, Bach, leveza e muita ironia: pontos-chave desse vestuário tão rico e dinâmico que Woddy Allen consegue transformar num filme sem rótulo, ou seja, conta-se apenas uma história.

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