O Amuleto, 2015
Antes de mais nada, é sempre importante ressaltar o quão importante é fugir do estereótipo em torno do cinema nacional nos últimos anos. As recentes produções, principalmente às direcionadas ao grande público, tem se estruturado na mesma fórmula, seguindo os padrões impostos por um humor, no mínimo, ignorante.
Se procurarmos com atenção, principalmente no alternativo, encontramos boas obras, dramas, terror, enfim, devemos defender o cinema nacional, porém, é preciso ser franco em destacar enormes falhas como é o caso do mais recente “O Amuleto”, lançado em maio de 2015.
A história se passa em Florianópolis, onde no passado duas jovens foram queimadas vivas em uma floresta, acusadas de praticar feitiçaria. Nos dias atuais, inclusive usando de todos os artifícios possíveis para o espectador entender isso, alguns jovens estão programando uma festa na mesma floresta. Acontece vários assassinatos que serão investigados, narrativamente com o auxílio de uma linearidade confusa, onde o passado se mistura com o presente, afim de buscar respostas e imersão do espectador.
Há de ser destacado os pontos positivos, o que infelizmente são bem poucos e superficiais em base a uma imensidão de erros. Começamos pela ideia central, mesclar um passado sombrio com uma atualidade alienada é muito interessante, longe de ser novo, mas enquanto obra nacional, é interessante avistar uma real oportunidade de identificação com o que vivemos no dia a dia, diversas lendas que escutamos ou a própria tecnologia e ânsia pelo compartilhamento.
Esse é justamente outro ponto forte, no mesmo tempo que, reitero, não passa de intenção, pois a prática nos leva a outra conclusão, é a maneira como a tecnologia é utilizada. Uma das personagens está ganhando popularidade com um blog, portanto ela fotografa tudo ao seu redor, em outra ocasião, esse elemento poderia ser o princípio de uma crítica, alusão ao comportamento estranho do jovem, enfim, mas nessa obra preguiçosa se torna apenas um ponto para perder ainda mais credibilidade, não dá para acreditar, é muito mal contado, a personagem é irritante ao ponto de desacreditarmos ser possível alguém ler as suas ideias, ainda mais, é impossível existir alguma veracidade ou tensão em determinada cena onde essa moça vai fazer xixi no meio do mato e, após ouvir uns estalos, parte com o celular na mão, filmando, com uma curiosidade patética, sem medo ou emoção alguma.
É crucial em filmes de terror desenvolver, antes de mais nada, personagens que pensam, transmitem algum tipo de empatia ao público, se não existe isso todos os outros pontos entram em colisão e cria-se um verdadeiro desperdício.
Traduzido pelo próprio diretor, Jeferson Dê, como “um filme de terror para jovens”, se assim o for, ele os subestima ao nível mais elevado possível, construindo uma obra pobre, vazia. Estranho é imaginar o motivo de atrizes como Maria Fernanda Cândido e Bruna Linzmeyer aceitarem participar, a segunda é até mais normal por conta da idade, certamente viu nesse trabalho uma real oportunidade de ascensão no cinema. O que pode acontecer, com sua beleza capaz de provocar êxtase, extrai o mínimo de uma personagem fraca, não tem muito trabalho a fazer, a não ser transmitir todo o seu carisma.
O problema mesmo são as decisões, seja desenvolvimento do roteiro, com personagens fracos, como os policiais que, com um tratamento sério, seriam as peças chaves para essa história, como a própria brincadeira do tempo. A quebra de linearidade, muito oportuna em diversos filmes, se torna apenas mais uma péssima decisão aqui pois confunde por motivos desnecessários e não leva ou eleva a tensão.