Crítica: Alguém Qualquer
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Crítica: Alguém Qualquer

AlguemQualquer_posterZé (Tristan Aronovich) trabalha em um prédio de classe média e vive em uma casa simples na periferia. Zé fala pouco, quase nada, e parece até ter algum tipo de atraso mental, seja pela lentidão com que responde às pessoas, ou pela expressão sempre sofrida com que segue a vida. É aí que chega Jandira (Amanda Maya), sua prima distante que precisa de um lugar para ficar. Aos poucos, ela vai tentar mudando a vida de Zé, na tentativa de dar algum significado ao modo invisível com que ele vive, especialmente porque ele está com os dias contados devido a um problema no coração.

A proposta do filme “Alguém Qualquer” é falar sobre essas pessoas invisíveis, que trabalham nos diversos “serviços” espalhados por aí, de quem geralmente as pessoas não sabem sequer o nome. Roteirizado, dirigido e estrelado por Tristan Aronovich (que também assina a trilha sonora), o filme foi rodado com baixíssimo orçamento e sem qualquer apoio de patrocinadores ou leis de incentivo.

Zé bem que poderia ser um “Zé Ninguém”, mas esta expressão remete a alguém sem importância. E por isso o título “Alguém Qualquer” combina com o protagonista, que embora não tenha tido uma vida grandiosa, ainda assim é alguém.

Se questões técnicas podem ser deixadas de lado em função do baixo orçamento – e assim o foram, já que o longa conquistou importantes prêmios internacionais, como o do Festival de Beloit, cada vez mais importante – a atuação de Tristan merece aplausos pelo esforço, caracterização e intensidade com que ele deu vida ao Zé.

Na trama que acompanhamos, merece destaque a fotografia, principalmente nos momentos em que o protagonista segue de manhã, ainda escuro, sob uma luz fria da madrugada, para pegar o trem. E a repetição dos momentos em que ele acorda sob o barulho do despertador é importante para compreendermos a vida dele, embora o mesmo não se possa dizer dos excessivos fade outs e fade ins entre uma mudança de cenário e outra.

AlguemQualquer03Mesmo que consiga emocionar o espectador disposto a compreender a vida do protagonista, bem como as dificuldades da sonhadora e falante Jandira, a trama não precisava explicar demais. Quando a sutileza poderia ser a chave para nos fazer pensar no quanto a vida de uma pessoa é válida ou visível, nos deparamos com explicações verbais que seriam solucionadas apenas em imagens. É como se, na ausência do protagonista, o roteiro se tornasse verborrágico como a Jandira, o que muda o ritmo e enfraquece a força narrativa.

No fim das contas, “Alguém Qualquer” ocupa um espaço no cinema tal qual o do próprio Zé, protagonista. Parece ser invisível, imperceptível em meio aos barulhentos blockbusters gringos e às espalhafatosas comédias. No entanto, é de forma quieta e simples que consegue tocar algumas “Jandiras” sonhadoras.

 

3/5

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