ROCHA)S( #15 – O Estereótipo Racial Feminino no Cinema Brasileiro
Começarei esse texto com duas provocações:
1.) O nome de uma atriz negra que estava no elenco do último filme nacional que você assistiu.
2.) O último filme nacional – de temática não escravista – que trouxe uma atriz negra nos papéis principais.
Pressupondo que as respostas podem demorar, ela nos levará a refletir sobre a presença que a mulher negra possui na produção cinematográfica brasileira hoje.
Como nosso cinema incorpora as atrizes negras na sua representação?
No meu processo de pesquisa sobre o tema (entre sites, blogs especializados e jornais impressos), uma pesquisa de 2014 feita pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) foi intensamente analisada e deixou em evidência que as mulheres negras além de não estarem nas telas de cinema, não estão também nos seus bastidores.
A pesquisa batizada de “A Cara do Cinema Nacional” sugere que as produções cinematográficas da nossa indústria estão bem distantes de refletir a realidade do nosso país. Essa incongruência contextual se mostra visível nos dados levantados, entre os anos de 2002 e 2012. Enquanto a maior parte da nossa população se constitui por mulheres (cerca de 51,7%), as negras aparecem em uma proporção mínima de 02 a cada 10 longas metragens.
Outro número alarmante é que as atrizes pretas e pardas representam apenas 4,4% do elenco principal dos filmes nacionais. E essa limitação funcional não fica restrita apenas à frente das câmeras. Nesse período, nenhum dos mais de 218 filmes nacionais de maior bilheteria teve uma mulher negra na direção ou como roteirista.
Para melhor compreendermos essa realidade, se faz necessária uma análise diacrônica dos fatores sociais, culturais e políticos que influenciam a produção cinematográfica nacional desde o Cinema Novo, e do papel exercido pela figura feminina desde então.
“… Pelos dados, a população brasileira é DIVERSA, mas essa diversidade não se transpõe para ambientes de poder e com maior visibilidade…”
As palavras da mestranda Marcia Rangel Candido (uma das autoras da pesquisa), reafirma o abismo representativo acerca da “realidade real” e a “realidade ficcional” retratada nas nossas películas. E acima de tudo, mostram a influencia direta que os mecanismos de PODER exercem no CONTROLE daquilo que vemos em menor ou em grande escala.
Por que essa DIVERSIDADE não é retratada?
Qual é o real propósito de LIMITAR a representação dessa população plural e abrangente?
“… Além da ‘total exclusão’ nos cargos técnicos, a representação no elenco está limitada a estereótipos associados à pobreza e à criminalidade…”
Enquanto as atrizes brancas retratam a diversidade feminina sob uma ótica socioeconômica positivista e bem sucedida, cabe às mulheres negras carregarem o fardo de uma realidade opressora, condicionada às mazelas sociais.
O determinismo nas escalações de elenco é evidente, ostenta uma realidade paralela galgada na ciranda dos estereótipos.
A invisibilidade das negras no elenco – como disse Verônica Tofte, coautora da pesquisa – são distorções da sociedade. E quando algo é distorcido subentende-se que há uma necessidade de vender um contexto paralelo criado e/ou de camuflar uma realidade que grita e é incômoda.
A listagem dos filmes é assinada pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema). Agência esta, que na opinião do premiado cineasta negro Joel Zito Araújo, deveria ter um papel mais ativo na promoção dessa diversidade no audiovisual. Para ele, “somente quem governa, que tem poder de criar políticas públicas, é que pode criar paradigmas para a nação e resolver essa profunda distorção”.
Em resposta a ANCINE diz que apesar de ter a função de fomentar e regular o setor, ela “não opina sobre conteúdo dos filmes, elenco ou qualquer coisa do tipo”.
Tudo isso em nome da liberdade de expressão e do combate à censura, ou apenas uma posição cautelosa e estratégica?
Para ver essa arte, outras ilustrações, foto-montagens, colagens, e conhecer o trabalho da Adriana Lisboa:
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