ROCHA)S( #09 – “NOSSAS ALICES”
… A L I C E.
Não a criada por Lewis Carrol, nem a americanizada por Tim Burton. Mas, a reinventada pelos brasileiros Karim Ainouz e Sergio Machado, na serie homônima da HBO.
Registro, sem o menor receio, que a ALICE daqui existe por causa da CELIA de lá.
Zenatti – a da série – é sensual, misteriosa, se liberta e seduz…
A minha – sem sobrenome -, tem uma sensualidade inerente às curvas, se revelará a cada plano-sequência e sua liberdade faz questionar o que é o amor?
ARTHUR – escancaro minha queda pela inicial “A”: mais um romântico de gestos e palavras sensíveis; vê a vida como um sonho cotidiano nem sempre traduzido por um dicionário.
CADÚ – uma ansiedade vulcânica, intenso, e cuja perspicácia despe o que os olhos tentam disfarçar.
Não é o sexo que é frágil, são os corações.
O estigma da fragilidade feminina está entranhado há milênios no nosso imaginário.
Elas choram fácil, refletem demais, discutem por nada, problematizam tudo, são temperamentais ao extremo…
E nós?
Nos rendemos ao papel do pau grande, grosso, teso e só?
MEUS HOMENS NÃO!
A madeira que moldura seus paletós é refinada, passa por um processo de reflorestamento em que nada é descartado, tudo se transforma e vem à tona.
Assim como as mulheres não podem ser as “putas de família” no cabresto da virilidade masculina, os homens não podem ser a o lado passivo que tudo faz, tudo aceita.
A mulher, o homem, o feminino, o masculino, o macho, a fêmea. Nascemos metade de cada extinto.
No decorrer da vida tendemos para um lado, para outro e alguns passam sequer conseguem se decifrar.
Magdalena, Augusta, Emilia, Isabel, Rosina, Clara… Capitu. Deixei a mais conhecida delas, propositalmente no final, para não quebrar o encanto.
A estética feminina machadiana agora é projetada na tela.
– Quanta pretensão!
Numa época em que a submissão feminina era regra inviolável, elas se viram “obrigadas” a usar mecanismos para expressarem suas vontades sem enfrentar diretamente o sexo algoz.
O embate feminino acontecia em um campo minado de estratégias, ações calculadas e silêncios.
Nesse universo, onde a ação se camufla na passividade, que Alice passa.
Como as enumeradas no topo dessa página, ela vai usar de atitudes premeditadas, que beiram a inércia do existir feminino, para demonstrar seus desejos e conquistar aquilo que quer.
Numa recriação livre desse mundo feminista, característico do século XIX e tão bem explorado por Machado, e em dias atuais passa longe do “assim seja”, Alice perambula e faz com o que o mito da mulher omissa ande sempre acompanhado do mito da mulher moderna.
Alice é uma histérica!
Cheguei a essa análise discursiva após ler, pela segunda vez, o dossiê sobre Psicanálise e Feminismo feito pela psicóloga Márcia Arán, publicado na Edição Nº 133 da Revista Cult.
Peço que não decodifiquem histeria como gritos, berros e escândalos. Afinal, o silencio também pode expressá-la tão bem quanto. A histeria que Alice representa, é uma histeria descrita como “perigosa e sedutora”, devido uma suposta combinação, que parte da analise freudiana, de uma “fraqueza moral” somada a uma “sexualidade expressiva”.
No meio dessa polaridade de fracasso e exagero, esconde-se um sofrimento intimo que não ficou nas mulheres do século XIX.
Essa fraqueza moral seria o “peso” de se relacionar mutuamente com dois homens, em uma sociedade que se diz tão liberal e não preconceituosa [e isso fica só no dizer], sem ter peso algum?
Só ela (s) sabe (m).
Mais adiante, o dossiê relata que segundo Sigmund Freud, essas mulheres histéricas, na sua descrição podem ser consideradas “uma cartografia da insatisfação cotidiana de quem não se conformava com as amarras das obrigações familiares e com a monotonia da vida entre quatro paredes”.
Alice está entre essas mulheres, há qual o cotidiano sufoca, aprisiona, enclausura e não as permitem ser o que, histéricas ou não, são. O corriqueiro cotidiano de ver o sol nascer e se por dentro de quatro paredes a incomoda.
A função do cotidiano familiar, independente das pessoas que nele estejam inseridas, é um fardo, que ela não quer carregar.
No discorrer das linhas, outra frase tenta decifrar o feminino feminismo:
“… a noção de mulher fálica, perigo eminente de uma sexualidade excessiva que deverá ser domesticada pelo masculino.”
Alice quer e sabe que precisa ser domesticada, só não quer ser doméstica. Paradoxo instigante do preciso-quero-não sou.
Arthur e Cadú são os pratos da balança.
Juntos, fazem com que Alice caminhe pelo fio da navalha, sem cair (ao menos por enquanto).
Para ver essa arte, outras ilustrações, foto-montagens, colagens, e conhecer o trabalho da Adriana Lisboa: Tumblr: http://adrianalisboapictures.tumblr.com/ || Instagram: https://instagram.com/adrianasalisboa || Pinterest: https://www.pinterest.com/adrianalisboa71/
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