“Uma Viagem Excêntrica” – The Trip: culinária combina com piada
A única coisa que fez eu me interessar por “The Trip” (o título brasileiro é bastante infeliz) foi o fato de que o filme trata de culinária. Cada vez mais me interesso por filmes que tratem do assunto, já que gosto do fato de a comida sempre combinar com sentimentos positivos. Além disso, sempre discordei do lugar-comum que considera a cozinha britânica como algo “sem gosto” ou “desimportante”. Nunca foi.
Na comédia estrelada por Steve Coogan e Rob Brydon, os dois amigos, famosos e respeitados por suas carreiras no Reino Unido (embora pouco reconhecidos no Brasil), visitam diversos restaurantes do norte da Inglaterra para um artigo e, enquanto viajam e comem deliciosos pratos, conversam sobre assuntos diversos e fazem suas imitações. A versão em longa-metragem é, na verdade, uma versão editada a partir de uma série de TV que ambos gravaram para a BBC.
Não é preciso ser um grande conhecedor da carreira dos humoristas para compreender que o filme mostra uma versão fictícia dos verdadeiros atores. O filme não possui roteiristas, já que ele é praticamente todo feito à base da improvisação dos atores. E nem precisaria, já que o charme da produção não está nas suas qualidades narrativas, mas nas imagens e na forma como os personagens – e atores – se divertem.
O objetivo deste artigo, no entanto, não é criticar o filme e apontar suas (interessantes) qualidades e seus (muitos) defeitos. O importante é a combinação de comida com piada.
Enquanto comem nos restaurantes mais refinados da Inglaterra, e enquanto esperam pelos pratos ou dirigem para novos destinos do roteiro, Coogan e Brydon imitam atores, falam sobre trivialidades e (re)pensam a vida. Desta forma, em meio a diversas cenas rápidas de “food porn” e pratos sofisticados, o espectador pode rir das piadas do filme. Mas não espere por piadas que não sejam irônicas, como é o bom humor britânico: eles não são como os americanos, espalhafatosos.
Embora os filmes que abusam do “food porn” tenham, por natureza, uma essência positiva – como “Sob o Sol da Toscana“, “Julie & Julia” e o recente “Chef“, para citar os mais óbvios – poucas vezes temos a chance de ver a combinação de pratos visualmente belos e diálogos verdadeiramente engraçados. Por este motivo, “The Trip” é uma ótima pedida.
Para ajudar, o diretor Michael Winterbottom aproveita para absorver as belas paisagens do norte inglês, e ainda abusa das nuvens e neblinas típicas da terra da rainha, que simbolizam um clima cujas duras críticas são comumente proferidas pelos britânicos, embora sejam igualmente um motivo de orgulho nacional.
A Inglaterra pode ser incrivelmente saborosa e divertida. E “The Trip” prova isso.