O Pôr do sol como síntese para o amor

Só quem já assistiu à trilogia de Richard Linklater protagonizada por Ethan Hawke e Julie Delpy sabe o que ela significa. Muito mais que romance, comédia ou drama, trata-se de uma síntese dos relacionamentos amorosos e, por consequência, da própria vida.

Os diversos diálogos que preenchem as narrativas simples apenas fazem dos três filmes uma avalanche de questionamentos sobre a vida. É impossível que alguém assista aos filmes e não acabe se questionando sobre a vida, os amores, as preferências, as “viagens” e os sonhos que fazemos ao longo de nossa existência.

Como se não bastasse, o último filme ainda questiona a eternidade do amor. Olha para os relacionamentos como elementos efêmeros da vida, que por si só já é efêmera.

E desde o início de sua carreira, Linklater já queria falar sobre o tempo, que é implacável.

E talvez um dos grandes símbolos de como o tempo é implacável é o pôr do sol. Ele simboliza o fim de mais um dia na vida de todos nós. Na trilogia “Antes”, é interessante o diferente significado do pôr do sol em cada um dos filmes.

No primeiro filme, “Antes do Amanhecer”, ele é o momento do beijo. O amor que se inicia entre dois jovens cheios de energia, com toda a madrugada pela frente, a liberdade de uma cidade tranquila. Ao perceber que o sol se esvai no horizonte, Jesse (Hawke) se sente impelido a beijar Celine (Delpy).

No segundo filme, o pôr do sol marca o início de um romance cujo amor se consolida. Não são mais jovens que buscam a energia fugaz da paixão, mas adultos que desejam um amor verdadeiro. Embora não possamos ver, podemos entender que o sol de põe quando Celine afirma que Jesse vai perder seu voo. Afinal, o “pôr do sol” está no título, e curiosamente não aparece.

No terceiro filme, “Antes da Meia Noite”, Jesse e Celine analisam o pôr do sol de forma racional. De um belo restaurante na Grécia, eles acompanham os momentos finais de iluminação do sol, contando os segundos para que ele desapareça. Vai acabar. Celine sintetiza boa parte das questões dos filmes ao observar, de forma clara e objetiva, que o sol desaparece, como alguém que já aprendeu que os dias passam, o tempo se vai e as coisas mudam. No fim das contas, “Antes da Meia Noite” é a dura maturidade que (nos) leva a compreender que até mesmo o amor, assim como o dia, se acaba. Cabe a cada um de nós o esforço de renová-lo(s).