“Amour” – Amor (2012)
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
(Fernando Pessoa)
Poderia eu ter somente utilizado um pedaço desse poema com o intuito de retratar o que acredito ser o amor, mesmo que ainda penso ser difícil pensa-lo. Sempre nos perguntamos por definições ou certezas sobre algo presente na esfera do humano porém o não saber, também faz parte do sentir dentro desse sentimento tão inteiro que se resvala quando tentamos nos apropriar de seu significado. Nossas experiências sensoriais são tão sinceras consigo mesmas que são a partir delas que nos aproximamos cada vez mais da nebulosa e estranha sensação que sentimos quando nosso coração pulsa, quando não sabemos o que falar, ou melhor, não precisemos falar; nossos gestos, toques, olhares já dizem tudo, isto é: “Fala: parece que mente/Cala: parece esquecer”; seria ouvir mas sem o ouvir, falar mas sem o falar. Não fala-se do sentimento amor, contudo, do que ele pede, do que a partir dele somos algo além de nós mesmos, de nosso ego, de nossas próprias vontades; é o encontrar-se no outro, se doar ao outro, por inteiro. É disso que o filme Amour trata, é da relação de um para com o outro, do que um sente e faz por aquele que ama, não há só a paixão amorosa que ali vive, mas as necessidades, o carinho, o afeto, o deslumbrante torpor do suspiro quando o sentimos num respirar quente após um abraço; são pequenas as coisas que na verdade são as que mais valem a pena sentirmos, àquelas as quais não queremos um basta e sim a continuidade, o desejo da manutenção desse sentir, já que em certa medida esse desejar é um espelho de uma carência, de uma falta; sempre procuramos o que nos falta para nos completarmos por inteiro, é a outra metade de nós mesmos, são dois que se transformam em um, todavia não é uma redução e pelo contrário, um acréscimo, uma junção tanto corporal quanto de almas, é a beleza, o bem, o amor; o verdadeiro amor.