Crítica: Depois de Lúcia
A câmera parada apenas observa o que acontece ao redor. Isso faz com que os acontecimentos ocorram de forma mais lenta, mas também mais triste e cansada. Afinal, é como Roberto (Hernán Mendoza) parece encarar a vida… ele está à beira da depressão. E se a sua filha Alejandra (Tessa Ia) parece estar pronta para se recuperar após a morte de sua mãe, agora em uma nova cidade, a crueldade de seus colegas vai fazê-la se sentir ainda pior.
“Depois de Lúcia” é uma verdadeira obra de arte. Sutil na hora de desvendar a complexidade dos personagens , a narrativa revela pouco a pouco o passado dos protagonistas, e ainda mostra cenas não apenas fortes, mas também efetivas na mensagem que deseja passar. Afinal, o diretor Michel Franco se utiliza da técnica para que a mensagem e o debate proposto sejam passados de forma ainda mais contundente.
Ao longo da trama, a jovem Alejandra começa a sofrer com o bullying dos colegas de escola. O que começa como ofensas verbais passa a se tornar uma série de agressões físicas contra as quais ela não pode – ou não consegue – fazer nada. É justamente por mostrar tudo isso com longos planos de uma câmera estática que o diretor faz do espectador uma testemunha da crueldade sofrida pela protagonista. A falta de trilha sonora apenas transforma tudo em algo mais real, mais cru. O espectador não é cúmplice dos ‘bullies’, mas apenas uma plateia passiva. É também o que muitos são na vida real.
Somando tudo isso a algumas cenas especialmente inspiradas (ambas relacionadas ao mar), “Depois de Lúcia” é um filme aterrador e impactante, e por isso mesmo, primordial para o mundo contemporâneo.
5/5