Crítica: Golpe Duplo
por Rodrigo Stucchi
O que faz um filme ser bom e liderar a bilheteria nas primeiras semanas de exibição é uma mistura de bom elenco, roteiro intrigante e, principalmente, entretenimento de qualidade. “Golpe Duplo” (Focus, 2015) tenta, mas será que consegue ser um longa realmente bom? Vejamos:
– Elenco: Will Smith é Nicky, o protagonista. Interpreta um golpista profissional que vive dos crimes organizados por ele e aplicados com sua quadrilha. Já no início do filme ele conhece a “mocinha” Jess (Margot Robbie), que será sua aprendiz, nova comparsa e, como não poderia deixar de ser, amante. A promissora atriz australiana de apenas 24 anos ainda não é muito conhecida, mas já venceu o Prêmio Empire de Melhor Nova Estrela em 2013, por sua atuação em “O Logo de Wall Street”. Bela, charmosa e carismática, não me surpreenderá vê-la em novos blockbusters dentro em breve, após essa boa atuação. Longas como este (não tão longo, apenas 105 minutos de duração, mas que parecem uma eternidade na segunda parte do roteiro – retomamos o assunto mais a frente) precisam de um bom vilão, claro! O escalado: Rodrigo Santoro que, sinceramente, me parece estar totalmente adaptado às produções “Hollywoodianas”. Apesar de suas poucas falas e aparições (para ele, algo super normal), o brasileiro se destaca frente ao queridinho da América Smith, que mais uma vez decepciona, afinal, sabemos o que ele é capaz de fazer. Em resumo, o elenco é forte, o potencial é gigante, mas será que o roteiro ajuda?
– Roteiro: Como numa partida de futebol, “Golpe Duplo” foi dividido em duas partes totalmente distintas. No 1º tempo, o time joga muito bem, é super bem entrosado, troca passes incríveis e arranca risos e sorrisos do espectador que mal consegue tirar os olhos da telona. E mal vê o tempo passar, diga-se de passagem. Os diálogos não são complexos, as falas chegam a ser até óbvias demais, mas que disse que o feijão com arroz não é eficiente? Pelo menos nessa primeira metade do jogo, foi. Goleada à vista? Infelizmente, não.
A equipe desacelera no 2º tempo por culpa de uma montagem pífia, um desdobramento de fatos desencontrados, sem grandes conexões, com inúmeras falhas e um roteiro pra lá de decepcionante. Há problemas de desenvolvimento e ritmo. Nesse momento, os minutos demoram a passar… Não perdendo de vista a deliciosa primeira parte, é realmente uma pena que os diretores Glenn Ficarra e John Requa não conseguiram manter sua história envolvente, de muita ação, romance e suspense, quente e eficiente até o final. Uma pena mesmo!
– Entretenimento: “Golpe Duplo” se destaca por ser engraçado e dotado de ação. Os momentos de romance passam longe de ser algo meloso e entediante. Em alguns momentos, lembram até aquele garoto Will da série “Um maluco no pedaço”, quando um jovem da Philadelphia tenta se adequar à vida em Bel Air, colecionando trapalhadas e relacionamentos profissionais, familiares e amorosos complicados. Pena que esses nuances são percebidos apenas pelo espectador que não foi derrotado pelo vago roteiro.
A película ainda apresenta momentos sensacionais, de prender a atenção, como a série de apostas feitas pelo protagonista com um ricaço durante o intervalo de uma partida de futebol americano. A cena completa, incluindo os motivos de Nicky ter “arriscado” tanto nas apostas, fazem valer a pena a compra do ingresso. Mas repito: é realmente uma pena que os diretores não conseguem manter o bom trabalho até o final.
Em suma, eu recomendo “Golpe Duplo”. Apesar da clara divisão que transforma um filme promissor em entretenimento comum (que ocorre exatamente após Jess se decepcionar e se separar de Nicky), o longa em si cumpre o papel da grande maioria dos filmes de ação: desenvolver a trama envolto a personagens sexys, diálogos rasos, cenas de ação exageradas e… praticamente sem história.
É uma pena (uau, quantas vezes eu repeti essa expressão?) que os diretores que apostam nesses gêneros insistem em não fazer a coisa toda direito! Com um elenco assim e um orçamento desse dava pra fazer algo bem melhor. Quem faz, quase sempre ganha minhas 5 estrelas, pois não tem como não se apaixonar por películas de qualidade, cheias de ação e história, apresentadas na telona.
Este ano, são vários os filmes do ano do gênero prometidos por grandes estúdios. Por estes, aguardo ansioso! Enquanto isso, é possível se divertir com um filme 2,5 claquetes? Sim, mas… That’s all Folks!