Crítica: Birdman ou (A inesperada Virtude da Ignorância)
por Bárbara Pontelli
Birdman ou ( A inesperada virtude da ignorância)
Lançamento: 2014
Direção: Alejandro González Iñárritu
Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris e Armando Bo.
Com nove indicações ao Oscar 2015 Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância), no mínimo, possibilita criar expectativas. Para aqueles que ainda não assistiram…corram! Filme sensacional!
Indicações:
* Melhor Filme
* Melhor Ator (Michael Keaton)
* Melhor Direção
* Melhor Atriz coadjuvante (Emma Stone)
* Melhor Ator coadjuvante (Edward Norton)
* Melhor Fotografia
* Melhor Edição de som
* Melhor mixagem de som
* Melhor roteiro original
A trama gira em torno de Riggan (Michael Keaton), um ator que nos anos 90 fizera enorme sucesso em uma trilogia blockbuster com o personagem Birdman. Agora, anos depois, não passa de um ator envelhecido que vive na sombra do sucesso passado. Diante tal circunstância, Riggan dedica todas suas forças em uma peça de teatro (“Sobre o que falamos quando falamos sobre amor”). Contudo, Riggan passa por inúmeros eventos que anunciam a péssima fase em que se encontra: a grana curta, problemas para encontrar um bom ator para completar o elenco, uma filha que acaba de voltar da reabilitação… e, ainda, a sua enorme crise existencial relacionada à carreira artística. Entretanto, nosso protagonista é persistente e continua a apostar todas suas (últimas) cartadas nessa peça – na tentativa de reanimar, com esse último suspiro, a carreira de sucesso que outrora vivenciara.
A princípio apenas uma trama curiosa e interessante, ok. Mas a genialidade da coisa está em outros aspectos do filme.
Entendi Birdman como o alter ego do protagonista: é ele que o motiva para determinadas situações e o desmotiva para outras segundo seus julgamentos ambiciosos…Birdman está com Riggan o tempo todo e o provoca em busca da autoafirmação e da necessidade/ obsessão que Riggan possui em ser uma estrela contínua e eterna. Iñárritu evidencia essa sacada em diversos momentos: quando, eventualmente, Riggan é submetido às vozes, quando ele simplesmente começa a voar pelar ruas, quando ele levita etc. Claro, essa é a minha teoria. Mas o interessante desse filme é, justamente, questionar as imagens: seria tudo isso alucinações de Riggan? Tudo não passa de um sonho? O que é real?
Birdman é o culpado de tudo: responsável pelos anos de sucesso de Riggan e é responsável pelo declínio do ator quando este resolve abandonar o personagem… e, principalmente, é responsável pela força que o domina em determinados momentos, como no dia da estreia da peça. Sobretudo, Birdman é também um filme metalinguístico. Nos deparamos com os bastidores de uma Broadway diferente daquela que estamos acostumados a imaginar. O filme vai apresentar o lado obscuro e cruel dessa indústria e, para tanto, Iñárritu coloca a “encenação dentro da cena”. A aparente ausência de cortes leva o espectador à mergulhar no filme…estamos juntos com os personagens no palco: compartilhamos das sensações dos atores. O nervosismo, a frustração, o esforço, a angústia…passamos de meros espectadores…atravessamos a tela.
Temos, também, toda uma questão existencial bem colocada. Todos os personagens atravessam alguma “luta interna”, cuja qual, evita-se falar sobre: Sam (Emma Stone) no seu momento pós rehab, Riggan lidando com o sucesso fracassado, Laura (Andrea Riseborough) no amor não correspondido ou a autoestima frágil disfarçada de arrogância de Mike (Edward Norton). Como lidar com tudo isso? A busca pela fama e reconhecimento seria uma das formas de lidar. Sendo ator ou não, grande parte da espécie humana concentra enorme esforço na busca pelo reconhecimento social. Assim, não é à toa que em diversos momentos o filme dialoga com a realidade diante as redes sociais, por exemplo. A crítica aqui é clara: toda essa modernidade é constante, inútil, fútil e serve como prova do quanto estamos obcecados pelo status social e, inevitavelmente, caímos na armadilha de tornar-se superficial e vazio.
Por fim, a tal da inesperada virtude da ignorância pode estar – justamente – no ato absurdo/ ignorante de Riggan (SPOILER) ao atirar em si: ato inesperado e espontâneo e a “virtude da ignorância” corresponde ao ato indiscutivelmente ignorante mas, ao mesmo tempo, torna-se uma virtude por, de fato, ter criado algo original em um meio artístico sedento pelo novo, pelo diferente e que está exausto das superproduções cheia de adrenalina e ação.
As boas doses de humor sutil e irônico somados à trilha sonora, também contam muitos pontos. Jake ( Zach Galifianakis) sendo um idiota completo representa a tal da futilidade e superficialidade que Iñárritu buscou criticar em relação ao mundo artístico/ da fama. A trilha sonora composta unicamente pelo som da bateria que oscila de acordo com a intensidade da situação é inacreditavelmente ótima!
Enfim…dá pra teorizar loucamente e tirar bastante coisa de Birdman. São diversas as mensagens que Iñárritu buscou expressar. A futilidade do público reflete nas peças teatrais…nos filmes, ou seja, temos um público ávido por polêmica mas – sobretudo – procura-se uma intensidade vazia. Discussões filosóficas e conteúdos reflexivos não são atraentes. Faltam ideias originais…é tudo igual. Já foi feito de tudo…e agora? Só nos resta a inesperada virtude da ignorância.