"Down in the Valley" - O Vale Proibido (2005) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

“Down in the Valley” – O Vale Proibido (2005)

É possível existir uma pessoa que imagina ser alguém, digo um outro, um além de si, mas ao mesmo tempo ser sincero, honesto, amoroso, gentil, respeitoso com alguém que ele ama mesmo não sendo o que ele imagina ser? Sempre queremos ser alguém que não podemos ser ou imaginamos nos tornar algo ou um ser que desejamos, que queremos, o qual ambicionamos. Contudo não é o que corriqueiramente acontece em nossas vidas. Muitos meninos quando jovens sonham em tornar-se um dia jogadores de futebol, outros, imaginam o quanto seria bom serem astronautas por exemplo. A vida não é como um jogo que nos guia para um caminho, como num tabuleiro, e nos indica qual lugar é o melhor, o pior ou o certo a estar; é como um ponto de interrogação, nossos dias aqui na terra, a cada momento que se passa, são descobrimentos, é tudo novo, como passos desconhecidos à um caminhar, novas esquinas à virar, novas pessoas à conhecer. Não sabemos ao certo o que vai acontecer ou o que está destinado a nos ocorrer, somos nada menos que um animal em busca de alimento, de sobrevivência, companhia e amor.

Quando nossas crenças são questionadas ou criticadas por alguém por mais que tais críticas aconteçam para o nosso bem, às vezes, nos fazem mal. O alimento do início do romance entre Harlan Carruthers (Edward Norton) e a linda, jovem e charmosa Tobe (Evan Rachel Wood), é o inesperado, o encontro jovial entre dois desconhecidos num posto de gasolina o qual ela, charmosa, o vê de jeans, chapéu de cowboy e fivela, à abastecer o carro de combustível aonde ela estava com os amigos. Harlan nunca tivera pisado os pés nas areias de uma praia. Os olhos claros e belos de Tobe o convenceram a ir com eles passar um dia como num momento de férias e de lazer no oceano que há uma hora dali se apresentava lindamente e azul à sua espera. Não sei realmente como me sentir à respeito do encontro de Harlan e Tobe, não sei se é uma coisa legal de acontecer ou uma coisa ruim; é uma família prestes a ruir com um irmão mais novo que tem medo do escuro e que depende estritamente do seu carinho, tanto quanto, de um pai policial e solteiro que perde a linha na educação dos filhos.

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Muitas vezes temos certeza de algo, de que o que estamos fazendo é o correto, é o que sentimos em nossos corações, e por isso, continuamos a persistir nessa procura pela felicidade e mesmo havendo muitos e muitos obstáculos à nossa frente, seguimos, batalhamos, criamos formas às quais nos levem o mais próximo do que desejamos, do que realmente sentimos ser o que tem pra ser. Quando Tobe realmente percebe o quanto está envolvida com Harlan é tarde, o tempo passa, as coisas vão acontecendo, porém quando é bom, divertido, não queremos que acabe, ainda mais para uma menina ainda adolescente e que se apaixona, talvez, pela primeira vez. O policial (David Morse) e pai de Tobe, não percebe o quanto está afastado de seus filhos, não dando-lhes carinho e compaixão, entretanto quando Harlan entra em suas vidas, suas percepções se modificam, se distanciam do que eram antes e acabam trazendo-o mais próximo, mais pra eles, mesmo sendo um caminho tortuoso e de brigas.

O interessante de Harlan é o seu jeito simples de ser, seu carisma, seu apelo ao humano, ao não material. Ele busca emoções sinceras, verdadeiras mas quando Tobe decidi não vê-lo por um tempo o que era calmo torna-se diferente. Vozes sucumbem do vazio, o estar de Harlan torna-se instável, sua personalidade se modifica, são outros que aparecem em sua mente, são seus imaginários amigos que povoam seus pensamentos com besteiras, indignações e distrações que o levam a beber, fumar, brincar com seu revólver até que, quando uma bala atravessa a janela do quarto onde vive, a proprietária aparece questionando-o sobre o ocorrido, todavia, o bondoso Harlan com seu olhar calmo e singelo volta à vida e diz não saber do acontecido. “Você está louco?” – ela pergunta raivosa. Ele responde que “foi um acidente”. Após tal incidente, percebe-se que Harlan sempre é mantido longe, afastado, abandonado pelas pessoas, ou seja, sempre o mandam embora, tanto à frente da casa de Tobe após uma discussão com seu pai e agora, dentro do seu quarto de aluguel.

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