"Mammuth" - Mamute (2010) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

“Mammuth” – Mamute (2010)

“O trabalho: meu dedo pequeno me disse que eu trabalhei toda minha vida. Toda minha vida eu contei as horas, toda minha vida eu derramei o suor. Tudo que eu ganhava no inverno inteiro, eu gastava no verão; ano após ano. Isso é o que chamam de ‘férias pagas’. Trabalhei como um louco entre lobos, só para esquecer; trabalhei como um surdo para guardar o meu amor. Agora eu posso dizer a vocês, eu vivi do pior, mas graças às minhas musas, agora sei que daqui em diante meu único trabalho é amar – como uma batalha final”.

“Te amo meu elefante marinho. Existem estrelas no teu olhar. Impuro mas você é minha pureza…meu tio, meu padrinho, meu protetor, te amo tanto, vá em busca da sua vida, da sua esperança, das suas grandezas, das suas impurezas”.

A busca pela felicidade é o maior de todos os desejos e anseios humanos. Não hesitamos em experimentar mesmo que seja um pequeno grau de sorrisos, satisfação, amizade, consolo, entrega, paixão. A cada dia que acordamos e vamos trabalhar queremos estar com quem nos sentimos bem, quem nos proporcione o mínimo de grandeza que a vida pode nos dar, seja através de um olhar, de um abraço, de uma conversa. O que falta percebermos é o quanto muitas vezes nos dedicamos ao nosso futuro profissional, trabalhando horas a fio, sem descanso, e ainda assim, os dias se passam, o sol se pousa, a lua se eleva, as marés perpetuam sem seus movimentos progressivos e retrogrades, e dormimos.
Mammuth, é um exemplo de que devemos viver e trabalhar e não trabalhar e viver. Através da vida de Serge (Gérard Depardieu), percebemos que passamos muito tempo em busca de algo que realmente não sabemos o que é, contudo, temos o conhecimento do procurado, já que nos pequenos momentos em vida, essa busca cessa e o vivenciar vive e não mais busca. O primeiro momento em que Serge revive, nasce novamente, ocorre quando o som do motor de sua motocicleta soa como um turbilhão o qual lhe traz passados de sua vida, memórias, decepções, alegrias. Fazia anos que ele não sentava naquele banco de couro e pegava uma estrada, sentia o vento bater na sua face, via os lagos, as flores, a própria estrada à sua frente.
A primeira vista é dinheiro o motor móvel que o leva seguir o rumo do asfalto, a necessidade de sobreviver diante de dívidas o faz ir em busca de documentos os quais o fariam ganhar sua pensão de aposentado. Entretando, Sergei, apesar sim de conseguir gerar frutos em sua procura, o que realmente encontra é o que faltava em sua vida, ou seja, sentido em viver. A pureza de seu coração o levam a encontrar sutis encontros em sua viagem que realmente acabam transformando tanto sua vida como seu amor por sua esposa, o qual estava alheio a seus desejos, estava ausente. E o que acontece? Não mais é o dinheiro a preocupação primordial de sua vida, é o encanto da felicidade, do amor, do simples estar e tomar um sol no rosto, sentir o calor esquentar suas bochechas e de olhos fechados sentir a quente luz a cegar-lhe os olhos desta maneira a não conseguir abri-los. A simplicidade e a beleza com a qual Gérard Depardieu vive a vida de Sergei é de tal forma e tão plena, que o filme nos proporciona uma leveza, um sentir gostoso, e de reflexão quanto ao como lidamos e levamos nosso modo de viver nesse mundo corrido, cheio de compromissos, dívidas, pagamentos e lucro; sendo que o que sempre esteve e está à vista de nossos olhos, é a felicidade, só basta enchergá-la.

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