Crítica: Magia ao Luar – Woody Allen
por Bárbara Pontelli
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Magia ao Luar (Magic in the Moonlight)
Lançamento: 2014
Direção e Roteiro: Woody Allen
Ambientada no final da déc. de 20 no sul da França, irá narrar a trama de um famoso ilusionista Stanley (Colin Firth) que irá ao encontro da jovem médium – Sophie (Emma Stone) – com o objetivo de desmascará-la e provar que seu dom não passa de uma farsa. Entretanto, quanto mais conhece Sophie, mais envolvido fica frente à beleza da moça e às questões existenciais que surgem – estilo típico de Woody Allen – mesclando humor inteligente, pessimismo e diversas referências filosóficas.
Antes de mais nada, vale apresentar Stanley: um cético, pessimista, egocêntrico e narcisista. Convencido de sua genialidade e orgulhoso da sua racionalidade invejável. De repente, o que era para ser mais um evento sem grandes emoções no qual bastaria poucos minutos ao lado da jovem para desmascará-la, torna-se um grande encontro de Stanley diante suas próprias dúvidas e questionamentos de toda sua mentalidade e (ausência) crenças. Já Sophie, é uma linda moça que convence todos a seu redor de seu talento e, graças a ele, recebe o convite de se casar com o milionário Brice (Hamish Linklater). É nesse sentido que veremos o desenrolar do filme: o cínico Stanley ora se convence do quanto Sophie não passa de uma charlatã, ora se permite cair aos seus encantos e considerar que, de fato, deve existir algo a mais além desse mundo.
Penso que, além dos acontecimentos da trama em si e do desfecho – o qual, dessa vez, não pretendo comentar, embora tenha achado realmente bom e, como sempre, com uma sacada ímpar woodyalliana – o filme somou pontos por outros aspectos.
Mesmo sendo uma grande admiradora e fã de Woody Allen, certamente assumo que as últimas produções, de fato, não carregam aquela maestria dos seus clássicos. Entretanto é inegável que, entre erros e acertos, seremos eventualmente presenteados com filmes consideráveis e Magia ao luar penso que seja um deles! Com uma sinopse não muito atraente a primeira vista (ilusionista que se esforçará para desmascarar uma médium fake) o filme revela um roteiro delicioso que só Woody Allen é capaz de produzir. Humor inteligente, cinismo e o questionamento da racionalidade atrelados a questionamentos sobre a vida, a morte e do conceito de felicidade. Como sempre, um prato cheio para as divagações existenciais. Não é equívoco considerar Stanley como o alter ego do próprio Woody Allen: o que resta ao artista genial tão perdido em sua grandiosidade se não a morte – destino de todos nós, simples mortais? Como ser feliz diante uma natureza tão radicalmente racional e cética? Seriam os “medíocres” mais felizes por optar um caminho cheio de mentiras, ilusões e crenças vazias…vale a pena tal caminho? Sem respostas prontas, só resta ao espectador a reflexão e algumas doses de risadas, salvo uma luz no fim do túnel: a possibilidade do amor (vide desfecho) – “possibilidade” porque nem sempre acontece.
Outro aspecto que soma força a essa produção trata-se da belíssima fotografia. Cenários previamente selecionados, Woody Allen nos presenteia com lindas cenas naturais à luz do verão europeu. A cena em que Stanley e Sophie estão no observatório é de matar…linda demais! Adorei as atuações de ambos e não dá pra deixar de comentar também o quanto Eileen Atkins (tia Vanessa) mandou bem!
Vale a pena conferir… um filme leve, engraçado e que – como sempre – provoca algum tipo de questionamento existencial que leva um tempinho a mais para ser digerido. Adoro os personagens rabugentos do cinema Woodyalliano e Stanley fez jus a essa marca. 😉