Crítica: Se Eu Ficar
Seria impossível falar do filme “Se Eu Ficar” sem compará-lo ao recente “A Culpa é das Estrelas“. Inúmeras características unem estes dois projetos: além de serem filmes baseados em romances de sucesso e terem um forte apelo junto ao público adolescente, ambos falam de perda, família, amor e dos rumos que a vida toma – tanto aqueles que controlamos quanto os que nos controlam.
“Se Eu Ficar” conta a história de Mia (Chloë Grace Moretz), uma adolescente apaixonada por música clássica e seu violoncelo, recentemente apaixonada por um roqueiro (Jamie Blackley), e que vive dilemas típicos de sua idade, como a iminente separação de seu namorado para realizar seu sonho em uma grande universidade. Após um acidente de carro com toda a sua família, a jovem passa a viver uma experiência fora do corpo, presenciando o drama de seus amigos e familiares e sendo obrigada a tomar a decisão quanto à sua vida: se ela deve se render ao coma e morrer ou se ela deve optar pela opção sugerida no título.
Há diversos filmes e livros sobre experiências fora do corpo, e uma versão “teen” poderia resultar em algo exagerado e com requintes de melodrama vazio. De fato, o filme é melodramático em sua essência, mas de forma bastante eficiente e devidamente bem realizada.
Não que não haja problemas ao longo da projeção. Ao contrário da importante narrativa em off de “A Culpa é das Estrelas“, neste filme a voz de Mia explicando tudo soa redundante em diversos momentos. E ao contrário do elenco cheio de simpatia encontrado naquele, este precisa se ater apenas ao carisma da protagonista, já que os outros atores são nada mais que corretos. É uma pena, também, que o diretor R. J. Cutler exagere nas câmeras que giram em torno dos personagens, e que tenha sido necessário criar uma enfermeira do hospital como personagem apenas para explicar o que não precisaria ser explicado.
Enquanto as músicas tocadas ao longo do filme são interessantes e se encaixam muito bem nas relações entre o clássico e o rock, o mesmo não se pode dizer de todos os diálogos, que muitas vezes soam pouco orgânicos à narrativa – e por mais que o avô de Mia (Stacy Keach) se esforce, sua simples aparição tardia na trama faz com que sua carga dramática não tenha peso o suficiente.
De qualquer forma, “Se Eu Ficar” é um filme eficiente em sua proposta e traz uma feliz perspectiva da nova geração de adolescentes. Caso a tendência de melodramas semelhantes se prolongue, torço para que continuemos a ver certas características positivas para a formação dos mais jovens. Afinal, embora seja curioso ver as relações entre as pessoas bem concatenadas com as redes sociais, e mesmo que estes filmes acabem idealizando pais e mães antenados e de mente aberta, seria mais interessante ver outros longas protagonizados por mulheres que buscam em suas vidas algo além de suas uniões com pares românticos.
Mais do que um filme interessante, com falhas e acertos, “Se Eu Ficar” pode muito bem ser analisado como um reflexo de seu tempo. De um tempo em que as mulheres não precisam ser criaturas inúteis que aguardam por seus príncipes encantados, e nem deixar de lado seus sonhos por seus amores. De um tempo em que as redes sociais são coadjuvantes de relacionamentos verdadeiros, e não substitutas das relações. E ainda mais importante: de um tempo em que se discute a perda, a morte, a vida e tudo aquilo que realmente vale a pena, mesmo que para isso seja necessário elevar os sentimentos à máxima potência, tal qual fazem os adolescentes.