Brasil não sabe escolher filmes para concorrer ao Oscar
Conforme já estamos todos sabendo, “Hoje eu Quero Voltar Sozinho” foi escolhido pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil no Oscar.
Isso significa que o filme do diretor Daniel Ribeiro, estreante em longas, pode ter a chance de ser indicado ao Oscar, caso a Academia de Hollywood o selecione entre os indicados para, no dia 22 de fevereiro de 2015, anunciar o grande vencedor da estatueta comercial mais cobiçada do cinema.
Considerando as críticas nem sempre positivas do filme em suas exibições internacionais, “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”, chamado de “The Way He Looks” em inglês, dificilmente ganhará o prêmio, se é que existem chances de sair indicado ao Oscar. De fato, a escolha do filme foi muito elogiada por aqueles que lutam pela causa da igualdade entre pessoas de diferentes orientações sexuais. Um filme que mostra a maturidade da vida adulta chegando a um adolescente gay pode muito bem ajudar as pessoas a enxergarem esta questão com mais naturalidade, indo de encontro às concepções fundamentalistas amplamente perpetradas por organizações que, na maioria das vezes, possuem cunho religioso e domínio discursivo sobre grande parte da população.
No entanto, é preciso tentar compreender o tipo de filme que a Academia costuma premiar nesta categoria (Filme Estrangeiro), e levar até lá os filmes brasileiros que mais conversem com o pensamento deles, caso se deseje levar um prêmio deste tipo – e, sabendo da importância do Oscar, seria interessante manter este esforço, já que um inédito Oscar de Filme Estrangeiro ao Brasil traria bons frutos à produção brasileira.
Dentre os filmes listados para tentar uma vaga no Oscar, “Entre Nós” e “O Lobo Atrás da Porta” certamente teriam mais chances, já que receberam críticas mais consensuais quanto a suas qualidades e possuem maior refino quanto à dramaticidade. Sabendo do conservadorismo da maior parte dos membros da Academia, nenhum “entendedor de Oscar” arriscaria enviar a eles qualquer longa com relacionamentos homossexuais, como “Hoje eu quero…” e “Praia do Futuro”, por exemplo – mesmo sabendo que em 2006 houve uma certa abertura para três Oscars a “O Segredo de Brokeback Mountain”.
Considerando que no ano passado o Ministério da Cultura teve a péssima ideia de tentar indicação ao Oscar para “O Som ao Redor”, podemos chegar à conclusão de que ninguém faz a menor ideia dos padrões da Academia de Hollywood. Afinal de contas, o filme pernambucano de Kleber Mendonça Filho é uma obra de arte incomparável, mas jamais teria apelo para ganhar uma estatueta.
É preciso ser um pouco mais pragmático para conseguir uma indicação (e quiçá um prêmio) na cerimônia mais famosa do cinema mundial. Levar a Los Angeles apenas os filmes de apelo local não será uma boa ideia.