Simple Simon (2010)
“Um ótimo molho leva tempo, assim como o amor”
O amor segundo Platão é o desejo por algo que não se possui, a insuficiência de algo e o desejo de conquistar. Não há o toque, o envolvimento, é distante, é platônico, isto é, um caminho para além do real, para o imaginário, para o mundo da fantasia e do sonho. Na obra O Banquete do filósofo citado, o amor seria a busca por algo que não se possui, e que posteriormente, se define como a busca permanente do que é bom. O retrato do sentimento realmente é bem delineada pelo filósofo já que a felicidade, outro tema importantíssimo na filosofia, existe, mesmo que seja num sopro de vida, quando estamos apaixonados ou amando.
Digo felicidade e agora tristeza porque o rosto feliz e o rosto triste querem dizer alguma coisa quando o vemos. A forma de ver o mundo desta forma, através de desenhos de faces, umas risonnhas e outras não, é o universo de Simon, um autista com sindrome de Aspenger. Geralmente quem possui tal transtorno é inteligente, ambicioso, bastante racional e também sincero, calado. O sonho de viver num planeta distante da terra, em que não há sentimentos, seria uma fuga dos problemas da vida mundana segundo Simon, e é o início do filme Simple Simon dirigido por Andreas Öhman.
O planeta no qual Simon vive é um baú com uma tampa de panela como teto. Ele fica horas dentro de seu próprio mundo e o único capaz de tirá-lo de lá é seu irmão Sam. As artimanhas de realmente viver o que Simon vive dentro do baú, faz com que seu irmão consiga conversar com ele, e também, tirá-lo daquele ambiente quando é preciso. Há uma certa dificuldade de comunicação entre Simon e seus pais na casa onde moram, contudo, quando seu irmão decide o levar para morar consigo e com sua namorada, tudo muda. É tudo organizado, tem dia, horário, trabalho, tudo cronometrado e certo, a matemática faz a vida acontecer pra ele, e a partir de agora, para seu irmão e sua companheira. Entretanto, a presença como o costume rotineiro e metódico visto por Frida, namorada de Sam, passa ser caótico e começa a atrapalhar sua relação amorosa com Sam, o qual se depara com tal decisão: Frida ou Simon. Frida se vai, mas a tristeza fica. O objetivo de Simon então, ao ver seu irmão cabisbaixo e deitado na cama por horas, é faze-lo encontrar um novo amor, a garota perfeita.
É complicado definir o que é perfeito ou não, mas para Simon é algo simples. A compatibilidade de gostos é o principal, isto é, tipo de filmes, tipo de molhos, se lava louça ou não, cães ou gatos, se emiti sons ao fazer sexo, etc. Pode ser estranho e constrangedor fazer tais perguntas a alguém, mas para Simon não, é simples assim como não vê nada de anormal em fazê-las para quem desejar, seja abordando na rua, seja para a vendedora de hot-dogs, seja para a menina que sempre esbarra indo para o trabalho. A procura não se dá por completo rapidamente, leva tempo, é como uma equação matemática já que uma das perguntas de Simon para uma possível pretendente é: “Se vê namorando alguém que seja cientificamente perfeito para você?”. Seria possível acreditar na ciência para se doar por completo ao amor por alguém? O encontro de duas pessoas que realmente possam se amar se diz respeito a equidade de coisas e gostos que ambos têm em comum? Este é o caminho o qual Simon segue e até faz um tipo de livro com fotos e descrições de possíveis pretendentes para seu irmão Sam com tais características, e sim, existem as mais ‘perfeitas’ e as mais díspares. Todavia, em um dos dialógos entre os irmãos, ao usar um exemplo matemático, para ficar mais fácil de Simon entender, Sam utiliza de imãs, ou seja, pólos opostos se atraem, pois, pessoas diferente podem sentir-se atraídas umas pelas outras também.
Ao encontrar então alguém oposto ao procurado talvez a conexão perfeita que Simon queria obter para a felicidade de seu irmão aconteça. As visões de mundo distintas, os sentimentos, as formas de ouvir os sons, de tocar, de ver as coisas, transformam, mesmo que de forma sútil, o modo pelo qual Simon enxerga o mundo ao seu redor. Essa colisão entre Simon e sua amiga loira, Jeniffer, a qual ele acredita ser o par perfeito para seu irmão, acaba sendo uma companhia diferente em sua vida. Seus horários acabam se colidindo com o habitual e a repugnância ao toque, neste momento, acontece diversas vezes, mesmo com o incômodo ainda existindo por parte de Simon, mas torna-se tolerante. A forma pela qual Jeniffer o trata é como um modo menos atento, isto é, não o leva tanto a sério como todos o levam, levando em conta suas restrições e métodos de viver. A transgressão do meio leva à mudança do normal, do certo, do correto. O que Simon faz para conquistar o amor de um casal que jamais se viu e torná-lo vivo é de uma simplicidade, de uma beleza, de um toque extremamente cuidadoso, e tudo isso para que seu irmão, a pessoa que ele mais ama no mundo possa amar outra mulher e eles três, juntos, poderem viver juntos como uma família. O gesto de amor, de carinho, afeto diz muito mais que mil palavras.
“Às vezes algo ruim leva a algo bom, isso também é uma espécie de equilíbrio. Talvez você precise de um tipo de inteligência artificial para entender isso. Talvez precise ter Aspenger”. (Simon)