Crítica: Sobrenatural: Capítulo 2
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Crítica: Sobrenatural: Capítulo 2

“Into the further we go”

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Sobrenatural: Capítulo 2 é um filme diferente. Ainda mais que o primeiro. No original, a família Lambert é assombrada por insidiosas forças do além, e Renai (Rose Byrne) descobre que um de seus filhos, Dalton (Ty Simpkins) e seu marido Josh (Patrick Wilson) possuem a habilidade de realizar projeções astrais, viajando pra fora de seu corpo físico e deixando um compartimento vazio para quaisquer forças malignas o queiram preencher. O primeiro filme surpreendeu pelo “twist” que deu na velha fórmula de “Família que se muda para casa assombrada”, incluindo aspectos pouco utilizados nos filmes de terror atuais, como a própria Viagem Astral, tema pouco aproveitado no terror. E em épocas de filmes com a fórmula de Atividade Paranormal e suas infinitas sequências e derivados, Algo diferente no cinema de Terror é revigorante. E Sobrenatural inovou ao voltar as origens, com influências de filmes como Poltergeist e O Iluminado. E, para voltar as origens do cinema de Terror, James Wan voltou as próprias.

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Depois de ter criado a galinha dos ovos de ouro da Lionsgate: a série Jogos Mortais, e inspirado toda a geração do Torture Porn (para o bem e para o mal), Wan realizou o fraco Gritos Mortais e o subestimado Sentença de Morte. Ambos os filmes não chegaram a ser um fracasso de bilheteria, mas as críticas amenas e desinteresse do público fez com que os filmes fossem esquecidos, apesar das vendas razoáveis no mercado Home e Video. E a alcunha de “novo talento do horror” dada a Wan se diluía lentamente conforme a filmografia do diretor aumentava. Wan, após um hiato e replanejamento de carreira , se juntou ao seu amigo Leigh Whannel (com quem escreveu Jogos Mortais, seu primeiro filme), e ao produtor Oren Peli (Atividade Paranormal) e realizou, finalmente, Sobrenatural, uma mistura de gêneros que resgatava o terror trash new wave oitentista e renegava o sangue e violência tão comuns que o próprio Wan havia popularizado. Com um orçamento de pouco mais de 1 milhão de dólares, o filme rendeu 12 vezes o seu valor somente no fim de semana de estreia, e colocou Wan nos holofotes novamente. Uma sequência era certa. Wan então realizou o ótimo Invocação do Mal (outro filme que homenageia o terror setentista, desta vez o de exorcismo), e logo em seguida voltou ao universo que o relançou no cinema neste Sobrenatural: Capítulo 2.

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No segundo longa, a família Lambert é colocada já no centro de uma investigação e mistério, como o gancho final do 1º filme indicava. Após resgatar seu filho Dalton do “além”, algo mais voltou com Josh, e Renai deve descobrir o quê. Whannel acerta já no enredo, trazendo de volta a família do primeiro (algo pouco visto nos terrores de hoje) para concluir (mesmo) sua história. Todos estão bem em seus respectivos papeis. Com destaque para Patrick Wilson, que é o que tem mais a se fazer desta vez, já que ele deve incorporar, literalmente, duas personas, com direito a sorriso a lá Jack Torrance de “O Iluminado”. A direção de James Wan é segura, sem “sustos fáceis” e com movimentos de câmera perfeitamente planejados. Percebe-se que ele entende do que faz. Fica apenas a impressão de que, após o impecável trabalho que fez em Invocação do Mal, Wan “arquitetou” menos seus quadros, algo como uma direção mais “light”. A fotografia de John R. Leonetti (Sobrenatural, Invocação do Mal) é igualmente eficiente, transitando entre a paleta mais viva (ainda que com seus tons de cinza) do mundo real ao azul sombrio e alegórico do “Além”. Um dos elementos mais eficientes do primeiro filme (e de qualquer bom terror que se preze), a trilha sonora, volta com o mesmo compositor, Joseph Bishara, e seus violinos agudos e desconcertantes, nos momentos certos. O mais importante do filme, talvez, seja a própria reviravolta na fórmula. Wan transita entre gêneros, passando por Fantasia, Ficção Científica, Horror e o elemento mais curioso: Comédia. É a homenagem que havia se visto em pequenas porções do primeiro de volta na maior parte da projeção.

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E de homenagens, o filme está cheio: há referências das mais diretas, como aos já citados O Iluminado, Poltergeist e Horror em Amityville, até as menores, como o horror com pé no ridículo e debochado de Evil Dead. E isso é perceptível no roteiro. O filme tem dificuldade em equilibrar os vários gêneros e o ritmo fica confuso, com momentos de comédia pastelão procedendo momentos de terror, etc. Sobrenatural: Capítulo 2 é, enfim, um filme diferente. Um terror que abraça os diferentes gêneros e tenta resgatar o trash oitentista, popularizado por Sam Raimi. A série Sobrenatural é um amontoado de referências e ideias que nem sempre funciona, mas que diverte pelo auto deboche e por reintroduzir algo de novo – e sim, diferente – ao cinema de terror atual. E eu não teria problemas em revisitar a série no eventual (e certo) Capítulo 3.

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