Entrevista: Felipe Camargo, diretor do curta “O Fugitivo”
Produzir filme no Brasil de forma independente não é fácil. Sempre que podemos, incentivamos e noticiamos produtores de curtas e longas que decidem fazer alguma coisa “na raça”. Infelizmente, o Cinem(ação) não tem estrutura para sair à caça das inúmeras iniciativas que existem aos montes no Brasil, mas procuramos dar destaque ao que chega em nossas mãos – e qualquer um pode nos enviar informações . Já conversamos sobre um curta-metragem que nos foi divulgado e noticiamos curtas de alunos da Unicamp em 2013 e também neste ano. Em nossos podcasts, já conversamos com Gabby Egito, que vem produzindo curtas premiados nos Estados Unidos, e com Bruno Lopes, ator que também levou seu primeiro roteiro filmado para Cannes.
Desta vez, conversamos com o diretor e roteirista Felipe Camargo, que está à frente do curta “O Fugitivo”. O filme, que está em produção e conta uma história que debate o tema da escassez de água, é uma produção totalmente independente.
Felipe, que também comanda a produtora Guará Filmes, respondeu a algumas perguntas sobre seu trabalho.
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De onde surgiu a primeira ideia para o roteiro?
Sempre tive vontade de produzir um curta-metragem que de alguma maneira tivesse uma função maior além de apenas entreter. Há algum tempo vinha pensando em como juntar essas duas coisas. Por morar em uma cidade que há mais de 20 anos sofre com a falta d’água, pensei em abordar esse assunto de maneira que fizesse as pessoas pensar sobre o tema mais profundamente.
Ai foi um exercício de observação, vendo as coisas que a população tem feito por um pouco de água. Assim surgiu a ideia de criar um roteiro que aborda o “tráfico de água”, em um futuro não muito distante em que as pessoas seriam perseguidas por conta desse bem natural.
Este é o primeiro curta independente produzido pela Guará. A ideia é fazer mais?
Sim. É o primeiro curta produzido de forma totalmente independente. Por se tratar de um assunto atual e que influencia a maneira como as pessoas enxergam a vida daqui para frente, essa independência (sem envolvimento político, partidário, em pleno ano eleitoral), nos permitiu fazer uma crítica direta às pessoas, físicas e jurídicas, e à maneira como elas fazem uso desse recurso cada vez mais escasso.
Quanto à ideia de outras produções, já temos dois outros roteiros sendo trabalhados que entrarão em produção assim que “O Fugitivo” for finalizado. A ideia é trabalhar com apoios coletivos para realização desses materiais.
Quais foram as principais dificuldades na elaboração do roteiro?
Na verdade existem algumas dificuldades que permeiam a produção de um roteiro independente, que normalmente é produzido com pouca ou nenhuma verba. Desde locações até a alimentação de toda equipe.
Mas no geral, tem sido uma experiência incrível. Quando se tem uma equipe que “compra” a ideia desde o início, tudo fica mais fácil. “O Fugitivo” tem pessoas extremamente engajadas desde o início. É importante citar o nome dessas pessoas pois sem elas não passaria de uma “ideia na cabeça”. Charles Ferreira, André Almeida, Alessandro Franco, Alessandre Pi, Rodrigo Lunardelli, Rodrigo Stoppa, Mariana Mendes, Melissa Vassali e, posteriormente, Rafael e Jéssica Tavernari.
Como você pretende divulgar o filme quando ele estiver pronto?
Todo nosso projeto de divulgação foi pensando em cima do on-line. Trabalharemos com redes sociais como Facebook, Linkedin e Youtube. Além disso, temos o apoio da Sigma Six, que está fazendo nossa assessoria de imprensa, buscando espaços editoriais gratuitos para divulgação desse material. Nossa projeção é impactar cerca de 3 milhões de pessoas com esse projeto.
A Guará Filmes tem um portfólio mais voltado a vídeos publicitários. Qual é a principal diferença em fazer um curta-metragem e os vídeos encomendados?
Os vídeos encomendados normalmente são materiais em que a criatividade fica um pouco suprimida. Isso porque são roteiros prontos ou com um objetivo específico. Projetos publicitários normalmente têm a intenção de vender algo, seja um produto, uma marca ou um serviço. É ótimo trabalhar nisso também. Fazer esses materiais dá uma grande bagagem de conhecimento para produzir outros materiais, como o curta que estamos fazendo. Nos materiais não encomendados é onde podemos aplicar técnicas diferenciadas, que em algum momento virão a ser a nova linguagem aceita nos materiais publicitários. Sempre foi assim. Via-se no cinema e logo o grande público aceitava isso nas suas TVs. É uma mistura. Sempre os dois andam paralelos. É muito bom poder andar pelas duas ruas.
Que dicas ou sugestões você daria a quem deseja “fazer acontecer” e produzir seus próprios curtas?
Estude. Estude e estude. Veja muitos materiais. Busque referência. Copie ideias já feitas e adeque à sua realidade. Produza. Erre. Fracasse. Produza mais. Corrija os erros. E continue produzindo. Mais do que uma câmera na mão, tenha uma ideia na cabeça. E o principal: forme uma boa equipe. Normalmente amigos são uma ótima escolha. Desde que interessados e comprometidos, sempre dá samba.
*As imagens são do Making Of. Confira mais imagens clicando aqui.