Fim do site Cinema em Cena é sintomático do tempo em que vivemos
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Fim do site Cinema em Cena é sintomático do tempo em que vivemos

Na quarta-feira, dia 27 de agosto de 2014, o site Cinema Em Cena anunciou o seu fim por meio de um editorial escrito pelo editor-chefe, Renato Silveira. No dia 28, o crítico de cinema e diretor do portal, Pablo Villaça, escreveu suas considerações em sua página no Facebook. O Cinema em Cena é, até o momento, o site de cinema mais antigo do Brasil ainda em funcionamento. Ele está no ar desde 1997 e se consolidou com uma credibilidade muito forte.

Enquanto o editorial de Renato Silveira se preocupa em explicar a situação na qual o jornalista se encontra, além de esclarecer a situação financeira do site, o texto de Pablo Villaça é mais emotivo, mas também dá explicações sobre as finanças da empresa.

Primeiramente, é necessário deixar claro o quanto o site vai fazer falta para a crítica cinematográfica e o dia a dia dos cinéfilos. Formador de uma geração de verdadeiros cinéfilos, o site soma dezenas de pessoas que se declaram apaixonadas pelo Cinema devido aos seus textos. Eu mesmo, particularmente, não me lembro de quando foi exatamente a primeira vez que visitei o portal ou apreciei uma crítica do Pablo Villaça – é como se seu conteúdo estivesse intrínseco à minha vida.

A segunda questão a se pensar é na atual situação do jornalismo e da produção de conteúdo em que vivemos. Já se discute há muito tempo como deverá ficar a situação da profissão Jornalista no Mundo. No ambiente online, depender apenas de publicidade não tem se mostrado a decisão mais acertada para os sites. Grandes portais, como UOL e R7, vendem cursos e sistemas de proteção antivírus, por exemplo. Portais de grande credibilidade costumam se render à venda de produtos próprios, a assinaturas ou ‘crowdfunding’. Em alguns portais da área de entretenimento, vemos ações comerciais diretas disfarçadas de conteúdo.

Embora Pablo Villaça tenha declarado que “não é um homem de negócios”, confessando que não tem habilidades gestoras – algo realmente incomum nos amantes de artes – o fato é que ele sempre teve um posicionamento bastante difícil quando se trata de publicidade: possui posições firmes e contundentes sobre política, e sempre se mostrou inflexível a qualquer eventual exigência que um patrocinador poderia fazer quanto ao que dizer nas críticas ou como noticiar um acontecimento, por exemplo – algo que pode ser visto em alguns sites grandes por aí (preste atenção).

O posicionamento que o Cinema em Cena teve sempre foi correto. O fim do site poderia ter sido impedido por alguma medida, mas não foi, e é esta realidade que temos à nossa frente. Ainda há uma fagulha de esperança até a data marcada para o fim do site, mas ela é remota.

O que não podemos permitir é que um acontecimento triste como este seja motivo de desânimo. O bom jornalismo não vai acabar, a crítica de cinema não vai acabar. Os bons filmes nunca vão acabar. A arte jamais vai acabar, e a paixão do ser humano pela vida será sempre a força motriz de nossa convivência por meio de criação e desconstrução de ideias, linguagens e conceitos.

Talvez o mundo em que vivemos, pós-moderno, líquido e tecnológico, nunca permita que estas estruturas sejam reordenadas, de forma a criar um panorama de como se ganha dinheiro com crítica, jornalismo e conteúdo. Mas enquanto o ser humano existir, haverá arte, haverá crítica e haverá o poder da palavra.

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