‘Frida’: Os traços convergentes entre Vida e Obra.
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‘Frida’: Os traços convergentes entre Vida e Obra.

“Suas telas, sua vida… Tudo parece o roteiro de uma mesma película. São cores quentes de uma mesma obra. São os ângulos de uma mesma história”.

Frida Kahlo ou a filha, irmã, estudante visionária e anti-casamento,Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón.

A biografia da pintora mexicana conhecida em todo mundo ganha sua versão cinematográfica em 2002, pelas mãos da cineasta Julie Taymor. Tendo como ponto de partida o livro da escritora e uma das principais estudiosas da vida e obra da expressiva pintora, Hayden Herrera, a cineasta estadunidense relata a trajetória da adolescência até a morte.

 

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Os minutos iniciais mostram a artista pós-acidente, já na fase adulta. Impossibilitada de ‘voar’ como na bem vivida juventude, agora deitada em uma maca, Frida (Salma Hayek, não tinha como não ser ela) é erguida por mãos que não são as suas, e guiada por pés firmes no chão (pés, pra quê?).

Nas primeiras cenas a pequena já se revela uma jovem diferente das outras. Na ideologia, na experimentação dos desejos antes da tão defendida instituição matrimonial, era visível – inclusive aos olhos dos próprios pais – a verve anárquica que ali gritaaaaava!

Esse “desvio” de conduta é representado de maneira mais explícita no momento em que todos posam para tirar uma tradicional foto em família. Ela se apresenta diante de todos em trajes e trejeitos masculinos. O olhar de reprovação da mãe contrasta com o liberalismo paterno de quem sempre quisera ter um filho homem.

 

Após testemunharmos suas estripulias e devaneios mais salientes, nosso encantamento por sua figura revolucionária, é abruptamente interrompido por um dos acidentes que marcara sua vida.

O namorado Alejandro Gomes (Diego Luna), a ida cotidiana à escola, o ônibus… Mas no meio do caminho tinha um bonde. Tinha um bonde no meio do caminho.

…Um pássaro azul que rasga livremente o céu e um pote de ouro que sangra.

 

“O enquadramento final da cena parece uma tela expressionista. Nela as cores gritam, as luzes estouram e as expressões falam mais que qualquer gemido”.

 

A moldura de Frida agora é uma cama. Seu corpo é refém do gesso. A alva muralha era um casulo que condenava a genial e libertária alma da jovem à imobilidade eterna. Mas as mãos e a imaginação, essas permaneceram livres. E o humor cada dia mais ácido e negro, afirmava sem valores pudicos que a culpa fora do corrimão do ônibus que a havia desvirginado.

Frida começa um auto-reflexo transportando para as telas os acontecimentos da sua vida e as angústias mais íntimas.

“O retrato de si mesma é a catarse que alimenta a alma da sua criação”.

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Abandonada por uma viagem à Paris, Frida supera o pessimismo da medicina, volta a andar e não titubeia em procurar o renomado pintor Diego Rivera (Alfred Molina, convincente no papel do artista alfa),a quem na infância chamava de pançudo para avaliar seus quadros.

A visita meramente profissional desperta um interesse entre a realidade e a promessa.

A camaradagem e o companheirismo na arte viram casamento e não põe fim a fama de mulherengo de Dom Diego. A fama se reafirma em território amigo!

A fábula acaba. O amor não acaba. As dores não cessam e só as vidas passam.

 

Pra ele: Outras telas comestíveis.

Pra ela: Outro homem e algumas mulheres.

 

Os ‘entendimentos amorosos’ de Frida, diferentemente aos do eterno marido, vão além da carne. São encontros tridimensionais (espaço-forma-conteúdo).

A pomba (suja em plena consciência da sua transparência atemporal) voa para Paris.

 

“Seu corpo era a mutilação simbólica de cada perda. Cabelos que caem, dedos que somem, a carne morta que inutiliza… Simples acessórios de uma solidão bruta”.

O filme pula a cama em rasa da parcialidade narrativa impregnada em grande parte das cinebiografias e nos permite contemplar a beleza aguda e crônica, com um pouco de pimenta e liberdade.

 

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A semelhança de Frida com sua interprete – e com cada um de nós – não é mera coincidência cinematográfica.

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