Crítica: A vida de outra mulher
A vida de outra mulher é um filme francês de 2012, o primeiro longa-metragem dirigido por Sylvie Testud. Conta a história de Marie, uma jovem que acaba de completar 26 anos, mas de repente acorda na sua vida 15 anos depois no seu aniversário de 41 anos. Desnorteada, começa a busca por sua identidade, sua família, e pelo amor de sua vida. Quinze anos atrás eles eram super apaixonados, agora estão se preparando para o divórcio.
Como um filme francês, de uma nacionalidade e cultura que não estamos habituados, o filme e o seu final não são o que esperamos tradicionalmente de uma comédia ou de um drama. Diferente dos filmes hollywoodianos que tem arcos narrativos que se abrem e se fecham durante a película, La Vie d’une autre deixa muita coisa no ar (e isso no meu ponto de vista é algo muito bom), como o porquê dessa “viagem no tempo”, se foi algo sobrenatural, o excesso de estresse ou uma pancada na cabeça e se ela volta pros seus vinte e seis anos. E eu gosto disso porque o filme não trata o seu expectador como crianças que não entendem como as coisas funcionam e por isso precisam ser explicitadas. Nós, como pessoas perfeitamente “letradas”, conseguimos compreender o que está subentendido ou preencher as lacunas faltantes.
Como “letradas” não digo apenas pessoas que estudam cinema ou que leem sites como este, mas todo e qualquer ser humano exposto à sétima arte e aos seus códigos e características especificas desde o começo de nossas vidas. Ou seja, como uma sociedade globalizada, quase todos nós. Por exemplo, certos filmes nos parecem muito intrigantes e inteligentes quando assistimos no começo da adolescência, mas, quando assistimos de novo na fase adulta nos parecem bem óbvios. O que A vida de outra mulher faz é nos reconhecer no papel de tal e não nos dá tudo de mão beijada. Além de não precisarmos de uma explicação, exercitamos nossas mentes inventando-as, pois tais explicações não são o foco da história. Claro que, sendo um filme relativamente curto pros dias de hoje, uns vinte minutos a mais no longa não poderiam fazer mal. Porém, acredito que devemos olhar para a historia e os conflitos presentes nela e principalmente como as pessoas lidam com ela. O principal no filme não é o argumento dele, mas sim seus personagens que a conduzem.
Talvez seja nesse quesito que o filme falha um pouco. Mesmo o sublime sendo o charme do filme, alguns pontos poderiam ser mais explicitados. Não para nos dar o roteiro ou o seu desfecho de mão beijada, mas sim para a criação de um sentimento de empatia e envolvimento com o que nos está sendo contado. Os personagens e as relações entre eles nos são dadas, se fossem construídas cada movimento ou volta do roteiro teriam outra perspectiva.
Como uma comédia, entretanto, o filme nos consegue criar uma aura de bem estar recheada por risadas gostosas e inocentes. Em outras palavras, pega a pipoca de microondas (tem que ser a que tem manteiga, senão não serve) se esparrama na cama ou no sofá com o mozão e aperta o play.