Prozac Nation (2001)
“Gradually, then suddenly”
“I understand now how people sometimes want to kill their lovers.
Eat their lovers. Inhale the ashes of their dead lovers.
It’s the only way to posses another person”.
(Prozac Nation 2001)
Como deve ser o sentimento de acordar e sentir-se só, não amparado pela felicidade, pela vontade e o desejo de viver? Acordar e não saber o porquê é algo como que o não entendimento dos outros para consigo. Os sentimentos vividos, sentidos, vistos por quem nem quer dormir para não precisar acordar são distintos, mais profundos, contudo de caminhos sutis, puros, simples. O que na vida sempre há de se complicar poderia ser descomplicado. Uma infância dolorosa, de rompimentos complexos entre um pai e um filho ou entre uma mãe e seu marido, afetam o andamento ou podem em certa medida dificultar as relações futuras dessa criança que acorda no meio da noite com os gritos de seus pais brigando no quarto ao lado. Não há fuga, escapatória desse ambiente quando se é dependente, criança, o que fazer? A vida com tempo vai nos dando caminhos, nos dando escolhas sejam elas difíceis ou não, sejam elas justas ou não. O que há de se fazer é continuar.
O permitir-se diante de alguém que toca seu ser com algo inesperado pode ser um degrau no qual pode ser o primeiro de muitos quando nem um deles ainda existia, era tudo plano, superficial. A paixão é um momento que pertence a esse primeiro degrau. O toque, o cheiro, o sentir do beijo, todos esses tempos de uníssono ser é atraente, faz bem, faz com que a vontade de acordar seja maior do que a de permanecer de olhos fechados. O destempero da solidão existe, faz parte da vida, de nossa propensão a estar só, talvez por ser esta a do momento, mas quando o só não completa-se por inteiro e o junto, o dois que vira um, o ofegante beijo que a respiração extasia-se quando ao findar-se do mesmo faz o coração tremer e bombear todo o sangue do corpo, dizendo que ali tem tudo, tem vida. O que acontece quando a depressão te escolhe? Há a ciência, há o método científico que provavelmente será a cura, será a salvação. Os remédios surgem. Os tomamos, nos sentimos felizes, mas será que realmente a felicidade existe? Tal discussão sempre foi o primeiro átomo da filosofia desde Platão: como atingir a felicidade – sempre foi a pergunta. Perseguimos tanto por algo que nem sabemos o significado e que no século das pílulas, das promessas de tratamento, das terapias as quais são tão populares, o propósito da procura por realmente discutir sobre o desconhecido, neste caso a felicidade, vira banal. Por que discutir, ir além da ciência se esta já nos dá o caminho: a droga. Há tantas farmácias ao nosso redor, talvez mais de duas por quarteirão, e nem sequer pensamos sobre isso, sobre o que realmente estamos fazendo aqui; basta um pouco de água e uma pílula a cada quatro horas que nossos problemas estão resolvidos.
Prozac Nation (2001), mesmo sendo um filme produzido num momento crítico de depressão que atingia grande parte da população norte americana, faz parte ainda de nosso convívio. Não deixa de ser atual, já que mesmo que não vivamos no mundo da depressão, contudo, vivenciamos o mundo das drogas legais, as quais estão permeadas de soluções, de respostas para inglês ver. As drogas então são maléficas ao ponto de não existirem? Claro que não! Além de salvar muitas vidas, a ciência gradualmente vem, em companhia da tecnologia, descobrindo curas para doenças que um dia matou muitas pessoas, temos a tuberculose, a aids por exemplo. O ponto de discussão não é se é necessário ou não tais remédios, mas o quanto acabamos nos tornando dependentes, e cada vez mais, sem por um momento perceber, estarmos reféns de pílulas, construindo nossas próprias farmácias, nosso estoque pessoal de curas, de felicidade.
A discussão do filme é tão importante que deixa-nos num abismo de pedras que sem elas, não poderíamos subir ao topo. A pílula pode sim ser o primeiro degrau, o impulso para que andemos por nós mesmos. Pra voltar a escrever, Elizabeth (Christina Ricci), obteve acesso ao famoso Prozac, remédio antidepressivo receitado no momento de crise que abarcou um grande número da população dos Eua. A princípio foi difícil, não é fácil aceitar algo de repente, ou mesmo de quem pode ter sido a causa de todo esse sofrimento: sua mãe. Todavia, a escolha por permanecer usando a droga é toda pessoal, e com o tempo, os ajustes podem ser feitos, pode-se levar a vida ou pelo menos tentar vive-la sem o artifício e da dependência da droga.
O filme bom é aquele que ao descer os letreiros ao fundo de uma música ficamos paralisados, refletindo sobre a história, e se isso acontece, é porque o que aconteceu diante dos nossos olhos existe, nos é semelhante, reconhecemos aquilo que vimos. É como ver comédias e rir de piadas, sejam elas esdrúxulas, de humor negro, sem nexo algum, porém o fato de sorrirmos, é o dado ponto no qual nos identificamos com tal situação. Além de ser um retrato de algo verdadeiro e também ser baseado em fatos reais, é um filme que recomendaria, tanto pelo roteiro, tanto pelas atuações, pois, Prozac Nation, sim, é considerado, na minha humilde opinião, um filme bom.