‘A Lei do Desejo’: A afirmação de uma estética no labirinto de paixões (e da carne).
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‘A Lei do Desejo’: A afirmação de uma estética no labirinto de paixões (e da carne).

“Uma das poucas leis que cumprimos à risca (e com alguns riscos). Ainda que em algumas vezes, seja na impulsividade do nosso inconsciente ditador…”.

Em um país onde as leis estão algemadas no arcaísmo do Alcorão constitucional e persistem a ficar limitadas a tinta e o A4 do papel, o desejo (esse sim!) se faz livre, voa, pulsa… E nos atormenta desde os primórdios da nossa pueril infância quando o ainda é simplesmente uma inofensiva vontade de querer muito um ‘brinquedinho’. Depois… O querer vira posse, o passatempo vira carne, o corpo do próximo é o playground mais divertido e a todo custo tem que nos saciar.

O cineasta Pedro Almodóvar é um mestre nessa arte de explicitar desejos e aguçar vontades. Grande parte da sua filmografia é um retrato genuíno, cru e realista do homem, seus derivados e dos desejos mais exóticos e subversivos.

“A Lei do Desejo (1987) pode não ser um dos seus filmes mais conhecidos, mas é uma das películas do cineasta espanhol que melhor representa a personificação transgênero sexualizada”.

La Ley del Deseo (1987)

Tão explicito como o desejo dos corpos e das almas, é a lei que ele trata de criar. Própria, independente, é cruel e diferente das leis constitucionais não é sinônimo de justiça. Pelo contrário, seu cumprimento pode resultar nas práticas dos crimes mais sórdidos e passionais.

O filme se inicia com uma cena íntima. Um tesão provocado, guiado pela voz… O contato com o próprio corpo, o minucioso caminho de cada rua, de cada poro… Imaginar… O desejo que começa em nós, que se estende no corpo de uma terceira pessoa e que se finda na plenitude do deleite compartilhado.

Almodóvar sabe utilizar como poucos o recurso da metalinguagem narrativa para contar a história de seus personagens. Nesse caso específico o cineasta e o filme dentro do próprio filme, que se confundem com a vida do próprio cineasta e lhe dão nuances autobiográficas em reflexos de alteregos.

 

Sempre admirei – ainda que superficialmente pela explosão de cores e tons – a estética almodovariana.

Confesso que a superficialidade analítica foi mais além… Quando jovem fiquei arregalado no ir e vir. A cadência das carnes trêmulas era o prato principal”.

…Mas, ao assistir novamente a dança e com o curso que fiz no Descola “Pedro Almodóvar: Labirinto de Paixões” ministrado pelo professor Pedro Maciel tive consciência mais sólida do leque cinematográfico do cineasta e decodifiquei os contextos ali inseridos ao captar as entrelinhas do universo além das cores e do exagero melodramático dos seus roteiros.

Tipos adversos, mas preteridos pela maioria são colocados em primeiro plano. Nos seus filmes essas minorias preenchem o todo e esse todo passa a enxergar a menor unidade do átomo como sua parte complementar mais sedutora e excitante.

 

Labirinto de Paixões

“A Lei do Desejo” faz um retrato da obsessão amorosa, que deteriora as relações quando o desejo rompe as paredes da carne e adentra o escopo da patologia. O cineasta Pablo (atuação firme de Eusebio Poncela) tem uma vida agitada e nela um caso de amor não correspondido. Entre os espaços da máquina de datilografar ele se vê envolvido com Antonio (Antonio Banderas novíssimo, em plenas formas) um homem sombrio que nutre um ciúme doentio pelo artista.

 

“Comédia no drama e a dramaticidade no cômico se reafirma como marca registrada do vosso criador, com doses picantes de tesão e libido nessa rede desejos (e pecados!)”.

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