Crítica: No Limite do Amanhã
Nunca gostei da ideia da viagem no tempo. Ainda acredito que, de todas as inovações tecnológicas vistas na ficção científica, esta é a única que o ser humano nunca conseguirá alcançar. Embora imagine o que poderia ser feito no passado caso pudéssemos voltar a ele, tenho a certeza de que, mesmo que isso fosse possível, jamais ousaria fazer qualquer coisa do tipo, já que sempre visualizei o presente de forma positiva, sabendo que ele sempre poderia ter ainda mais imperfeições do que já somos obrigados e enxergar.
No entanto, isso não me impede de me divertir ao imaginar esta possibilidade e, consequentemente, me divertir ocasionalmente com filmes que tem esta premissa. Desde os mais recentes, como “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido“, aos mais memoráveis, como “De Volta para o Futuro”, passando por longas interessantes como “Os 12 Macacos” e “Looper“.
Em “No Limite do Amanhã”, o diretor Doug Liman conta a história adaptada do livro “All You Need Is Kill”, do romancista japonês Hiroshi Sakurakaza, em que Cage (Tom Cruise) é um militar que comanda a assessoria de imprensa do exército e nunca entrou em combate. Ao negar a ordem do General Brigham (Brendan Gleeson) de entrar em batalha, ele é considerado um desertor e volta a ser um soldado que deve ir para uma espécie de “Dia D” contra alienígenas que invadiram a Terra. No entanto, ao ser “contaminado” pelo sangue de um alien com o poder de voltar no tempo, ele passa a ter a mesma habilidade, voltando ao início do mesmo dia a cada vez que morre.
Se Doug Liman resvala nos momentos clichês de batalhas e piadas entre jovens soldados estranhamente bem-humorados, o diretor também é extremamente eficiente em mostrar a quantidade enorme de vezes em que Cage volta no tempo – já que demora muito até que ele aprenda tudo o que deve aprender para saber lutar, e conheça todas as informações necessárias para chegar ao ponto principal da luta contra os alienígenas.
Além das diversas referências e críticas à guerra, como o tratamento dos soldados jovens, tratados como “brinquedos” que certamente morrerão, passando pelo uso do imaginário da propaganda para a criação de um ícone da esperança, como é o caso da combatente vivida por Emily Blunt, o filme se fortalece especialmente na atuação e no personagem de Cruise. O ator é extremamente eficiente, tanto nos momentos em que vemos que Cage se encontra muito inseguro, mostrando que nunca viveu aquele momento, quanto nas horas em que ele sabe exatamente o que dizer para conseguir o que precisa, já que viveu aquilo diversas vezes. Em alguns momentos, podemos ver até mesmo sua impaciência, como a de um viciado em games que precisa passar “fases mais fáceis” para voltar ao ponto perdido do jogo.
Mesmo com todas as cenas de ação necessárias para que se dê andamento à narrativa, além de uma trama bastante verossímil graças à presença de personagens que conseguem explicar em detalhes o estratagema usado pelas criaturas extraterrestres, o filme falha ao pender para os principais “vícios” de Hollywood: romances e finais felizes. Se a paixonite entre o protagonista e sua “parceira-treinadora” é minimamente aceitável, o final ao estilo “felizes para sempre” é extremamente desnecessário e apenas enfraquece o poder da história contada. Aliás, o último ato do filme, quando o protagonista deixa de viajar no tempo, simplesmente não faz o menor sentido, já que leva Cage a um momento do início da noite – quando vê os soldados de seu pelotão – e pressupõe que tudo o que ocorreu antes, incluindo uma transfusão de sangue (sim, transfusão de sangue!) foi no curso de um único dia.
Desta forma, “No Limite do Amanhã” é um ótimo filme de ação, mas que se rende a clichês e elementos demandados pelo grande público de tal forma que enfraquece a narrativa inicialmente proposta, mudando até mesmo o tom inicial do filme.