Johnny e June
por Rodrigo Stucchi
Minha dica de filme desta semana traz um filme de 2005. Esse tipo de filme, aliás, é um dos que mais gosto: histórias que trazem a música como fio condutor. Assim é o excelente “Johnny e June” (Walk The Line), um romance biográfico que retrata a vida do cantor Johnny Cash desde sua infância, passando pelo tempo de serviço militar, seu casamento com Vivian, sua luta (difícil e a princípio infrutífera) para se tornar cantor em Memphis, a chegada do sucesso nas turnês com Elvis, Jerry Lee Lewis e June Carter e seu problema com as drogas.
Baseado no livro de Johnny Cash e Patrick Carr, o roteiro foi escrito por Gill Dennis e James Mangold (este também dirigiu o filme) foca não apenas no romance (também bem complicado) de Johnny Cash e June Carter, mas em como ele compõe suas músicas. Cada canção que Cash escrevia se referia a episódios de sua vida, o que torna a narrativa bem amarrada e super interessante. É incrível também perceber o lado humano de Cash, que ora é um incorrigível bad boy viciado, ora tentava ser bom moço para conquistar o coração de June. Outro detalhe interessante é notar como ele não tinha preconceito com criminosos e se preocupava com a vida dos presos, que lhe escreviam cartas provenientes de várias prisões.
Mas uma biografia nunca é boa se não apresentar em seu elenco grandes atores capazes de entenderem sua importância e construírem personagens incríveis e, principalmente, verdadeiros! As escolhas para os papeis principais foram, a meu ver, ousadas. Joaquin Phoenix foi escolhido para interpretar Johnny Cash, enquanto Reese Witherspoon teve a missão de dar vida a June Carter no cinema.
Phoenix já possuía em seu currículo grande experiência em dramas e estava acostumado a ser protagonista. Já havia sido indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante quando interpretou o imperador romano Lúcio Aurélio Cómodos, no premiadíssimo “Gladiador” (Gladiator, 2000), vencedor de 5 Oscars, incluindo o de melhor filme. “Contos Proibidos do Marquês de Sade”, “Sinais”, “A Vila”, “Hotel Ruanda” e “Brigada 49” também são filmes densos, que colocaram a prova o talento dramático do ator antes de estrelar “Johnny e June”. E só para você ver como a música influenciou Phoenix, recentemente ele anunciou sua aposentadoria do cinema para se dedicar a sua carreira musical, iniciada durante a produção deste filme. Vale lembrar que ele ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator – Comédia/Musical e o Grammy de Melhor Trilha Sonora de Filme, ambos por “Johnny e June”.
No entanto, a escolha de Witherspoon para interpretar June Carter surpreendeu, pois a então mais bem paga de Hollywood só alcançou a fama ao protagonizar a sátira sobre os preconceitos que pesam sobre uma loira ingênua e superdotada, defensora dos animais, sempre vestida com roupas cor-de-rosa, nas comédias “Legalmente Loira” (Legally Blonde, 2001) e “Legalmente Loira 2” (Legally Blonde 2, 2003). Apesar da aparente “inexperiência” no gênero, a atriz foi aclamada pela crítica em sua performance como June, que resultou nos prêmios de Melhor Atriz no Oscar, Globo de Ouro – Comédia/Musical, Prêmio Screen Actors Guild, BAFTA, Satellite Award – Comédia/Musical e no Critics Choice Awards. Foi longe a loirinha (neste de cabelo castanho)?
Enfim, “Johnny e June” é um filme excelente, que retrata de forma primorosa a vida de Johnny Cash sem transformá-lo em herói ou vilão. A história apenas foi fiel ao que ele foi, como deve ser todas as biografias.