Crítica: Godzilla
Existem personagens e franquias que geram sentimentos que vão do amor ao ódio. É o caso de certas franquias para adolescentes, por exemplo: quem não ama, odeia. No entanto, este não parece ser o caso de Godzilla. O monstro mais famoso do mundo parece gerar amor ou indiferença: os que não gostam de ver o grande lagarto destruindo metrópoles, apenas se limitam a não dar nenhuma atenção a ele.
Neste novo “Godzilla”, que revive o tokusatsu em terras americanas após o fracasso de crítica homônimo de 1998, muitos elementos procuram mostrar que trata-se de algo mais que um simples filme-pipoca, mas acabam soando exagerados. No final das contas, os problemas do longa acabam se perdendo em meio às cenas de ação e às atuações de boa qualidade.
O filme mostra a história de Ford (Aaron Taylor-Johnson), um jovem soldado americano que perdeu sua mãe (Juliette Binoche) em um acidente (aparentemente) nuclear no Japão e desde então seu pai (Bryan Cranston) passou a investigar tudo o que podia para descobrir o que estava por trás do acidente.
A própria trama de “Godzilla” se revela com falhas desde o início: sem saber em quem focar a ação, o roteiro nos faz pensar, logo no início, que o personagem principal é o cientista Joe Brody (Cranston), para só depois focar a narrativa em Ford, mas não sem antes dar bastante ênfase ao Dr. Serizawa (Ken Watanabe) – o que foi uma ótima ideia, já que Watanabe consegue dar uma carga dramática interessante ao personagem.
Além de pecar pelo excesso em mostrar o máximo de informações possíveis com tramas paralelas à jornada do herói principal – que nem é o único herói e nem tem uma jornada tão envolvente – o diretor Garreth Edwards também exagera ao seguir a cartilha do envolvimento do público com os personagens. Ora, se as pessoas se apiedam de crianças tão facilmente, por que não inserir crianças em absolutamente todas as cenas de ataques dos monstros? E caso alguns espectadores sem coração não se sintam nervosos ao verem crianças inocentes sofrendo perigo, o jeito é apelar com… um cachorro indefeso!
Apesar de Taylor-Johnson e Olsen não demonstrarem uma química interessante, o filme pelo menos consegue boas atuações: enquanto Elisabeth Olsen atua com intensidade (ao contrário do protagonista), mesmo que sem muito espaço para isso, Bryan Cranston e Juliette Binoche conseguem extrair emoção dos momentos em que atuam juntos. Mesmo com os problemas, há de se respeitar as decisões do diretor com a câmera, que mostra o rosto do personagem-título em momentos cruciais, exibe cortes em momentos certeiros, e se movimenta de forma lenta e pesada ao acompanhar os movimentos igualmente vagarosos dos monstros, enquanto destroem prédios em grande escala.
Por falar em prédios, não podemos nos esquecer de valorizar a escolha do roteirista Max Borenstein por não destruir Nova York, já que existem tantas cidades que podem ser cenários de filmes-catástrofe.