‘Match Point’ – A sorte ou O azar dos pontos finais.
“E se… Se eu tivesse escolhido a frieza de São Paulo à quentura de São Salvador? Se eu tivesse escolhido a notícia ao invés da literatura? Se eu tivesse escolhido o caminho da esquerda ao da direita (sem cunho político-partidário)? Se eu tivesse jogado tudo pro alto e seguido meu extinto? E se… A bola tivesse caído do outro lado da rede? E se…”
– Foda-se os ‘sis’. Façamos valer os meios, sem destoar o caminho dos pontos finais. Os ‘match points’ do jogo, que em certas situações se camuflam em três (…), seguindo um longínquo e incerto caminho de continuação.
Vivemos na linha incerta da nossa própria existência. O ponto de início, que não se sabe onde começa, e o que tem lá do outro lado da margem, apenas imaginamos.
“… O resto é SORTE e AZAR…”
É por essa trincheira ideológica entre o filosófico e o racional, que perturba a mais sana e centrada das psiqués, que Mr. Woody Allen, com ‘Match Point’ (2005), nos faz entranhar pela influência do destino em nossas vidas, e revela como nossas ambições – sejam elas de ordem econômica ou social – e nossos desejos – sejam eles de ordem carnal, sexual, ou por mera convenção – interferem nesse jogo.
‘Match Point’ (‘Ponto Final’, em português) – em um breve release – narra a história de um professor de tênis, Chris Wilton (Jonathan Rhys-Meyers), que cansado da rotina de idas e vindas no saguão dos aeroportos, resolve se fixar em Londres e dar aulas particulares de tênis. Eis que um dia… Conhece Tom Hewett (Matthew Goode), filho de uma família rica, que passa a ser seu aluno no clube de elite londrino. Vendo no aluno a possibilidade de fazer novos contatos e conhecer possibilidades mais rentáveis de vencer na vida, a amizade logo perpassa a quadra de tênis e se estende a uma sessão de ópera. E é na lírica dramática de graves e agudos, que Chris conhece Chloe (Emily Mortimer), irmã de Tom.
Um prólogo inicia o filme com uma narração sobre o papel da sorte no nosso destino.
Encontros selados, programa noturno, apresentação à família…
O destino se encarrega de iniciar a partida.
Chris vê na pacata Chloe a porta de entrada mais fácil e vulnerável para seguir ao alcance dos seus objetivos – forja um encantamento pela jovem, cega na sua própria falta de tutano e no vazio social que a envolve, entrega os pontos e os ‘louros’ da família.
O destino (traiçoeiro!) se encarrega de embaralhar as peças no tabuleiro.
Chris vê agora na sedutora Nola Rice (Scarlett Johansson) – namorada de Tom preterida na árvore genealógica da matriarca dos Hewett – uma atração fatal, uma paixão avassaladora, que pode colocar em risco todos os seus objetivos.
Como em um jogo de xadrez o jogo avança.
Tom e Nola na expectativa do matrimônio; Chloe feliz ao lado do promissor marido. E Chris cada dia mais envolvido com a aspirante atriz.
Entre tórridos encontros, jura de amor, o agora homem de negócios descobre que será pai.
Com a notícia da paternidade, Chris mergulha em um dilema psicológico ao ver o campo minar diante à possibilidade da relação com Nola ir à tona.
O medo de perder tudo que conquistara deixa Chris no centro do tabuleiro. Entre a paixão e o poder. E Allen, de maneira orquestral, conduz os acontecimentos na via de mão dupla entre o impulso e a frieza.
“… Fiquei aflito, apreensivo, esperando o desfecho daquela rede cruzada de pessoas, de interesses, de comportamentos…”
Além do elenco afinado, Meyes com uma atuação precisa entre a frieza e o impulso, aliada a sua exótica beleza física; Emily que me fez sentir raiva da sua morosidade, ao vestir tão bem a carcaça languida e mórbida da mulher domada pelas regras do seio familiar; E Johansson sedutora, sexy, e enigmática, como é de costume.
Outro ponto alto do filme é a trilha sonora. As óperas do período pré I Guerra Mundial, são espetáculos sonoros à parte e se encaixam perfeitamente a cena dramática.
Roteiro instigante, personagens conflitantes, trilha sonora irresistível, desfecho surpreendente…
“Match Point’ termina como um belíssimo xeque-mate.”