Crítica: O mordomo da Casa Branca
Forest Whitaker é um baita ator! Ele teve seu auge em “O Último Rei da Escócia” onde interpretou o líder recém-empossado de Uganda, Idi Amin, um personagem muito interessante, pois se tratava de um louco, apaixonado pelo seu país que tinha como uma das características da sua personalidade ser “espalhafatoso”. Esse traço de personalidade deu uma abertura para que Whitaker pudesse brincar com as várias manias que o personagem tinha e realçou o talento do ator, o que o fez levar o Oscar de Melhor Ator em 2007.
Todo este acontecimento em “O Último Rei da Escócia” fez com que Forest fosse alçado a um dos atores “tops” de Hollywood, porém o que se viu nos anos seguintes foram filmes mais clichês que não colocam o ator com esta liberdade interpretativa, como por exemplo em “Os Reis da Rua” (2008) ou “A Minha Canção de Amor” (2010). A sequência de maus filmes deixou Forest meio que no limbo, entre aqueles atores fantásticos e aqueles normais.
Porém, anos passado (2013), acho que Whitaker queria mostrar a todos os críticos que não há dúvida sobre seu talento, e que ele é sim, um ator de ponta, e que merece muito respeito. Ele foi chamado por Lee Daniels, um diretor que já tinha feito um filme brilhante, chamado “Preciosa“, que contava a história de uma menina gorda, negra, que foi estuprada e estava grávida, o filme foi tão incrível que levou os OSCARs de 2010 com Melhor Atriz Coadjuvante (Mo’Nique) e Melhor Roteiro Adaptado, além de ter sido indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor (Lee Daniels), Melhor Atriz (Gabourey Sidibe) e Melhor Edição. Ou seja, quando um diretor que faz um filme deste, bate a sua porta, é praticamente um chamado divido de “redenção”, e Forest Whitaker não perdeu a chance e resolveu fazer o filme “O mordomo da Casa Branca”.
O filme conta a história de Cecil Westfall, um negro que sofre com o racismo e luta para conseguir ser alguém na vida. Para conseguir um lugar ao sol em um mundo tão cruel e desumano ele vê na profissão de mordomo um caminho para ser alguém. Crescendo na profissão, ele é convidado a servir na Casa Branca e acaba trabalhando para oito presidentes, isto o faz testemunhar o desenrolar da história dos Estados Unidos a um ritmo sem paralelos.
“O mordomo da Casa Branca” é um filme baseado em fatos reais, porém, como todo filme baseado em fatos reais, o filme tem muitos “floreamentos” para que a história seja mais emocionante, porém, se fosse para classificar o filme, poderíamos dizer que “O mordomo da Casa Branca” é o “Novo Forrest Gump Negro” do cinema.
Lee Daniels fez muito bem em convidar Forest Whitaker para viver Cecil Westfall, porque este é um personagem que permite ao ator mostrar todo seu talento, e sim, Forest é um ator brilhante! O elenco de “O mordomo da Casa Branca” é muito interessante, além de Forest, temos: Mariah Carey, Alex Pettyfer, Vanessa Redgrave, Oprah Winfrey, David Oyelowo, John Cusack, Terrence Howard, Cuba Gooding Jr., Robin Williams, James Marsden, Nelsan Ellis, Alan Rickman e Jane Fonda. Ou seja, só estrelas fantásticas trabalhando em um filme com uma história muito boa!
Outro ponto que me chamou muito a atenção no filme é a trilha sonora, que tem uma qualidade sensacional e consegue dar o tom das cenas, principalmente aquelas cenas de transição, ou quando o narrador esta explicando algo, são músicas que se encaixam muito bem com a cena que vemos e isto, sem dúvida, consegue dar o clima do filme de uma forma muito fácil. A fotografia também é brilhante! Por se tratar de um filme real, a fotografia poderia ser algo que ajudasse a contar a história de uma forma mais bonita e é exatamente isto que ela faz. Há algumas cenas fortes, com Cecil contra a janela que são lindas, além disso, em alguns momentos de tristeza é possível perceber nuances escuras, que mostram justamente esta tristeza envolvendo os personagens. Sutil e efetivo.
Para mim, uma sacada muito boa do roteiro foi mesclar a história que estava sendo contada com alguns fatos históricos. Lendo depois sobre a vida de Cecil Westfall, descobri algumas coisas que não batem com o filme, mas como falei, todo filme biográfico tem uma “perfumaria” que serve justamente para “melhorar” a história e deixa-la mais “encantadora”. Estas “perfumarias” foram muito bem feitas, e o filme mesclou em alguns momentos cenas reais com cenas do próprio filme e isto tem um tom de veracidade que te envolve e te faz engolir seco! Por exemplo, na cena em que o filho de Cecil, Louis vai com um grupo de estudante a uma lanchonete e eles se recusam a sentar no lugar “reservado para pessoas de cor” e isto causa um problema enorme, temos ali uma sequência muito interessante, que mostra o porque os jovens estavam ali, qual era a intenção deles, como eles foram parar ali, e ao mesmo tempo que a cena justifica, ela termina com o notíciario da época com cenas reais dos jovens negros que realmente foram presos por sentarem em um lugar que não era “o” deles. Toda esta seqüência é sensacional e muito bem feita, tem uma continuidade e uma narrativa que se encaixa de forma muito simples. Alias, na seqüência desta cena, onde começa a ser criada um conflito entre Cecil e Louis, o menino acaba sendo condenado a 30 dias na prisão e quando Cecil sai do tribunal “puto da vida” com o veredicto, ele vai tomar água em um bebedouro, e tem uma sacada de cor que é simplesmente genial, pois a câmera fica aberta e vemos Cecil tomando água no bebedouro para “Pessoas de Cor”, no lado esquerdo dele, temos o bebedouro para “Pessoas Brancas” e na sua direita, esta Louis, completamente puto com tudo que aconteceu. Só este encaixe já é muito incrível, pois temos Cecil no meio, fazendo o que o sistema quer (beber água no bebedouro para negros) e ele esta no meio de uma situação conflitante, seu filho contra o sistema separatista (no caso o bebedouro branco). A cena fecha com chave de ouro pois a fotografia é inteira marrom escura com tons dourados, dando aquela sensação de conflito…é incrível!
Enfim, “O mordomo da Casa Branca” é um dos melhores filme de 2013, pelo menos para mim. Tem um roteiro muito bem feito, tem o herói muito bem determinado, e ele tem defeitos que ao mesmo tempo que entendemos, perdoamos. É uma história envolvente, real e que tem Forest Whitaker voltando ao seu auge! Não me surpreenderia se ele fosse novamente indicado ao OSCAR de Melhor Ator. Que na minha opinião, também deveria indicar Lee Daniels por Melhor Direção, pois o filme esta com uma qualidade sensacional!
Se você é professor, este filme é muito bom para mostrar justamente como os negros sofreram com todo o regime pós-escravidão, e se você gosta de história, esta aí um filme que a conta de uma forma muito crua, muito simples, muito encantadora.
Como disse anteriormente, não acredite que tudo que é mostrado no filme é real, pois não é, tem muita coisa lá que simplesmente não existiu, como por exemplo a cena final, quando Cecil retorna à Casa Branca para encontrar com o presidente Obama. Não se sabe se o mordomo conheceu o presidente, mas sabe-se que ele conseguiu um convite VIP para o dia da posse, em 2009, e estava presente naquele dia histórico. Cecil faleceu em 2010, e o presidente Obama enviou uma carta a sua família reconhecendo seus anos no serviço e seu “patriotismo.” Outra curiosidade é que o nome real do modorno é Allen e da sua esposa é Helene, no filme eles foram chamados de Cecil e Gloria Gaines. (interpretador por Forest Whitaker e Oprah Winfrey.) Além disso, o personagem Louis (David Oyelowo), filho de Cecil, foi inteiramente inventado, Allen teve apenas um filho, que serviu o Vietnã e esta vivo até hoje.
“O mordomo da Casa Branca” é um filme brilhante! Um dos melhores que vi ultimamente. Recomendo e incentivo a todos à escrever para mim sobre o filme!