Crítica: Confissões de Adolescente
Esta semana eu fui ao cinema. Já fazia algum tempo que eu não ia e, particularmente, quando se passam algumas semanas sem poder desfrutar da sala escura, das poltronas, pipocas e refrigerantes de máquina, eu não sou eu mesmo, sinto que preciso ir ao cinema para relaxar e me envolver com a história que alguém tem para me contar.
Neste caso, quem tinha uma história para me contar foi Daniel Filho, diretor do filme “Confissões de Adolescente”. O desenrolar da situação se passa basicamente quando Paulo (Cássio Gabus Mendes) conta para as quatro filhas que está com dificuldades financeiras devido ao aumento do aluguel. Por isso, terão que mudar de apartamento e, provavelmente, de bairro. Desta forma, as quatro adolescentes, Tina (Sophia Abrahão), Bianca (Bella Camero), Alice (Malu Rodrigues) e Karina (Clara Tiezzi) resolvem economizar em algumas despesas domésticas para evitar a mudança.
Contudo, paralelo a este “problema”, cada uma das jovens está vivenciando conflitos “bem particulares de sua respectiva idade”. Tina, a mais velha, está em busca de um emprego e de uma colega para dividir o apartamento; Bianca acabou de entrar em um relacionamento com uma pessoa misteriosa; Alice está querendo perder a virgindade com o namorado; e Karina, despertou o interesse de um de seus colegas de turma.
Devo admitir que nunca fui fã deste tipo de filme (apesar de gostar de “As Melhores Coisas do Mundo”), porém, me incomoda profundamente o fato de ser voltado ao público adolescente (infelizmente, em sua maioria, meninas). O longa-metragem dedica-se a representar conflitos superficiais, reforça estereótipos de beleza presentes na nossa sociedade e, apresenta questões machistas como “naturais”. Além do fato de, por se tratar de um filme “adolescente”, todos os assuntos tentam ser abordados, sexo, gravidez, primeira vez, primeiro trabalho, etc.
Preocupações fúteis relacionadas à classe média brasileira, como a inspetora do colégio particular que não deixa o aluno entrar depois do sinal, as meninas preocupadas porque não querem sair de um apartamento de alto padrão na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio), a filha que faz faculdade de direito, mora sozinha em um apartamento pago pelo pai e procura pela primeira vez um estágio. Pois é, adicione ainda à receita, intrigas entre meninas envolvendo a aluna nova e o namorado da “loira popular”, sem falar no namorado de Alice, que após engravidá-la (na primeira vez que se relacionam sexualmente), diz que está preocupado com a faculdade de ia fazer nos Estados Unidos.
Sinceramente, me decepciono quando vejo que o cinema, a sétima arte, capaz de mudar as perspectivas de seus espectadores, capaz de trazer informação a todos, independente de sua classe social, cor ou crença, é usado para reforçar uma ideia de adolescência fútil e inocente. Quando é utilizado como instrumento para proporcionar e garantir a liquidez da vida cotidiana – como diz Bauman em “Vida Líquida”. Portanto, com um roteiro fraco, e uma história superficial, “Confissões de Adolescente” chega às telonas de todos os cinemas do Brasil para compor nosso cinema nacional.
Nota Final: 1 estrela!