Crítica: Serra Pelada

Deve ser por isso que o filme mostra dois amigos muito diferentes: Juliano (Juliano Cazarré) e Joaquim (Júlio Andrade), que abandonam tudo para tentar conquistar riqueza no garimpo. Mas o tudo de Juliano era nada, porque o “grandão” não tinha deixado ninguém para trás, enquanto que o tudo de Joaquim, o “professor”, incluía sua esposa com um bebê na barriga. Embora Joaquim seja o narrador (que, na tentativa de um conquistar um público maior, resolve explicar tudo direitinho em off), é Juliano quem sobressai, graças à personalidade mais marcante e à ganância que vai crescendo aos poucos, enquanto que Joaquim é mais honesto e passivo. A falha do filme está, portanto, em querer deixar ambos os personagens como protagonistas, sendo que seria muito mais interessante que apenas Juliano o fosse.
Mas se Cazarré e Andrade atuam com confiança, são os “reis” do cinema nacional que roubam a cena com seus personagens secundários: Matheus Nachtergaele como Carvalho e Wagner Moura como Lindo Rico criam figuras únicas. Enquanto Carvalho é o chefão de todos que comanda com sua brutalidade e dinheiro, Lindo Rico é um homem aparentemente inofensivo que procura vencer na lábia, mesmo que seja violento quando necessário, e destacam-se os trejeitos engraçados que o ator criou.

Uma das falhas do longa reside na relação entre Juliano e Tereza, já que o diretor parece não se decidir entre uma relação de amor e ódio quase brega – vista especialmente em uma fuga da ex-prostituta – ou uma relação de total dominância. Embora a atriz Sophie Charlotte esteja bem em sua estreia no cinema, o roteiro não decide se ela é uma coitada que precisa de amparo ou a famosa “mulher de malandro”, já que acaba indo morar com o homem que mandou matar seu “namorado” anterior.
Ao menos o roteiro foi sábio em não terminar a história apenas com o final feliz, mas também mostrar a continuidade da violência na região da ganância que intitula o filme.