Crítica: Gravidade
Existe uma música do Paulinho Moska que diz: “Não somos mais, que uma gota de luz, uma estrela que cai, uma fagulha tão só, na idade do céu…” Esta música me veio a mente depois de assistir ao novo filme de Alfonso Cuarón, intitulado “Gravidade”.
Já falamos de tudo que tinha para falar sobre o filme, mostramos trilha sonora, trailer em alta definição e muito mais, agora chegou a vez de falar do filme como filme, da história e mergulhar neste que é um dos filmes mais marcantes do ano.
Alfonso Cuarón recrutou Sandra Bullock, George Clooney, Eric Michels, Basher Savage, Paul Sharma para o elenco que trabalharia em “Gravidade”, porém, podemos dizer que o filme é Sandra Bullock e um pouco de George Clooney. A história se passa a mais de 600km de altura na órbita terrestre, onde astronautas trabalham concertando satélites. De cara somos apresentados para dois personagens completamente opostos. O primeiro, vivido por Clooney, é Matt Kowalski, um veterano astronauta que já esta pensando na sua aposentadoria. O segundo é a doutora Ryan Stone, vivida por Sandra, que é uma caloura entre a equipe.
O filme começa já dizendo que a vida no espaço é impossível, pois a temperatura varia muito, não temos oxigênio, etc… Ele só não diz isso, ele mostra. Nos 15 primeiros do filme já temos a nítida sensação que o homem está à merce do espaço. Pequenas ações como a Dra. Ryan perder um parafuso já deixam claro que os personagens estão limitados pelo seu meio.
Por conta de um acidente em um dos satélites, a tripulação fica em risco, e a chuva de fragmentos acaba viajando tão rápido a ponto de transformar estes fragmentos em tiros cegos.
O filme é impecável em termos de fragilizar o homem. Quando a Dra. Ryan é lançada ao espaço, a câmera viaja desde um plano aberto onde vemos ela se distanciando da nave, até termos a visão em primeira pessoa da personagem à deriva no espaço. Ou seja, Cuarón consegue transportar as sensações e desesperos de forma única! Temos uma ligação forte com os personagens e vemos sua impotência diante a situação. A cena é tão forte, tão precisa, que temos a nítida sensação de que não há o que fazer!
Aliás, para mim, este é um dos pontos fortes do filme: a câmera. Cuarón teve a sensibilidade de contar uma história no espaço de uma forma inédita! O filme nos brinda com vários planos sequência, planos longos que nos colocam dentro do filme, como se fôssemos mais um astronauta. Além destes maravilhosos planos-sequência, temos também essa proximidade com o personagem em primeira pessoa. Vemos o que a Dra. Ryan vê, escutamos a respiração dela, e temos ali uma conexão fortíssima com o personagem, o que é sem dúvida uma sensibilidade fantástica do diretor. Inúmeros planos-detalhe também dão um tom mais íntimo ao filme, e como disse, este é um dos pontos fortes de “Gravidade”.
Outro ponto a ser observado é a trilha sonora impecável que o filme nos oferece. A trilha é trabalhada como trilha e dá o tom do filme inteiro. Muitas vezes é a música que nos alerta para os perigos, e que música! De tirar o fôlego! Com agudos que incomodam, e de repente o silêncio, como uma facada no peito, mostrando que não sobrou nada! Simplesmente perfeita.
Além destes detalhes técnicos que são fantásticos, os personagens também são fenomenais. O roteiro escrito por Alfonso Cuarón e Jonás Cuarón é brilhante na construção dos personagens. Ao mesmo tempo que temos um “herói” imerso em um problema praticamente impossível de resolver, nós também vemos ali a fragilidade do ser humano de forma emocional. Como vivenciar toda a situação de estar perdido no espaço e ao mesmo tempo estar perdido na Terra? Sem ninguém para chorar sua perda? O que motiva o personagem a seguir em frente? A querer ir além? Para mim, tudo se resume em “oportunidade”, e o filme mostra exatamente isso, como o homem pode se deixar fragilizar tão repentinamente, mas como pode reverter a situação se tiver uma oportunidade. Seja interna, seja externa.
O filme é sem dúvida um dos mais bem feitos dos últimos anos. Não só pelo senso estético, que é maravilhoso, mas por unir essa beleza fotográfica com uma história profunda e imersiva.
Cuarón, tirei meu chapéu para você. Em “Gravidade” você ganhou um fã.
Foda d+!