“Lascados” traz novidade à forma de se fazer cinema no Brasil
Temos falado bastante do filme “Lascados” aqui no Cinem(ação). A produção do filme tem divulgado, muito espertamente, informações e imagens do longa já durante sua produção. Só isso já é um alento de novidade. Infelizmente, é muito comum o cinema brasileiro não ter a mínima ideia do quanto é importante divulgar um longa metragem de forma a criar expectativa no público.
Como se não bastasse isso, o filme “Lascados” tem outra novidade que pode ser interessante para o cinema comercial brasileiro: ele foi rodado sem nenhum apoio de leis de incentivo. Isso significa que os R$2 milhões gastos para rodar o filme, segundo matéria do Estadão, foram gastos do bolso de Marcelo Braga, produtor da Santa Rita Filmes, que está apostando todas as fichas.
Quem conhece um pouco do mercado nacional sabe que a produção de um longa costuma envolver a burocracia de inscrição em editais de órgãos governamentais, patrocínio de empresas que “iriam gastar o dinheiro em imposto de qualquer forma”, e muito tempo gasto para conseguir a verba. Uma das críticas que se faz a esse sistema é o fato de o filme ser lançado quando “já está pago”, de forma que não haveria necessidade de buscar lucro. Embora essa crítica nem sempre tenha fundamento, o fato é que há uma dependência muito grande por parte dos produtores em conseguir verba por meio das leis de incentivo.
No caso de “Lascados”, a história do filme remonta a mais tradicional – e muitas vezes ingênua – forma de se fazer um filme. Um roteirista confiante convenceu o produtor de que seu roteiro valia a pena ser filmado. No caso, trata-se de Manoel Batista Jr, jovem roteirista de São Mateus (cidade onde o filme foi gravado), que conquistou o sonho de ter seu roteiro gravado, mesmo tendo seu roteiro finalizado por outras quatro mãos (de Emílio Boechat e Marília Toledo).
Esta forma de fazer cinema pode ser muito bem vinda ao Brasil. É claro que o mercado ainda não está pronto para que todos os filmes sejam viáveis desta maneira, mas iniciativas assim podem ajudar a se criar um cinema comercial (que jamais, deixemos claro, deve substituir a produção de filmes mais específicos e elaborados de forma artística) focado em conquistar de volta o dinheiro investido.
Cinema é indústria. É arte. Mas é caro.
O produtor do filme confessou que mesmo assim vai precisar de uma “mãozinha” do dinheiro público. Possivelmente alguma secretaria de cultura vai ajudar a finalização do filme. Mesmo assim, temos um horizonte interessante surgindo nos binóculos do cinema nacional.
Vamos torcer para que não seja uma miragem.