Crítica: Um Homem de Sorte
Não existe problema algum em se produzir melodramas. Não existe problema algum em fazer um filme com alguns clichês – bem utilizados, eles podem até ser interessantes. Não existe problema algum em adaptar um romance de Nicholas Sparks para o cinema.
É uma pena, no entanto, que o roteiro deste “Um Homem de Sorte” tenha tantas falhas e nenhuma inventividade. Até mesmo a falta de força na temática da guerra soa artificial neste filme. Vamos a alguns exemplos.
Na trama, o soldado Logan (Zac Efron, com barba por fazer para provar que saiu da puberdade) está em um ambiente de guerra quando se levanta para ver uma foto caída no chão. Ao fazer isso, ele se afasta de onde ocorre uma explosão logo em seguida. Não basta ele se apegar à foto de uma bela mulher, seu amigo precisa repetir ao menos duas vezes que ela salvou sua vida e deve ser uma mulher especial. Logo em seguida, após mais uma explosão, o melhor amigo de Logan morre e nenhum tipo de peso dramático é mostrado sobre isso.
Após voltar aos Estados Unidos, Logan decide seguir em busca da mulher que “o salvou” e chega a uma cidade interiorana e pacata com um hotel para cães devidamente rústico. Por algum motivo completamente inexplicável, Logan sente dificuldades em contar para Beth (Taylor Schilling) o motivo que o leva até ali, e acaba aceitando o emprego de ajudante do hotel.
O romance segue, a partir daí, em uma sequência de situações clichês que vão se embolando cada vez mais. Logan conserta máquinas, prega madeiras quebradas e carrega sacos pesados com vigor de um jovem másculo. Beth é uma mãe carinhosa (devidamente criada pela avó) cujos únicos defeitos se devem a problemas causados por outros, como as ameaças do ex-marido influente e a perda do irmão. Para deixar a família mais perfeita para que o ex-soldado se apaixone, só faltava uma criança adorável e muito inteligente, o que também tem.
Os percalços encontrados pelo casal apaixonado são tão frágeis quanto suas resoluções. As ameaças do ex-marido de Beth são resolvidas como um simples olhar desafiador e palavras à altura; o problema “gravíssimo” da foto encontrada na guerra é solucionado com um simples pedido de “não vá”; e para finalizar com chave de ouro, um “deus ex-machina” faz chover no momento crucial para que o único problema futuro do casal apaixonado seja solucionado previamente – e acredite, os elementos do roteiro são apresentados de maneira incrivelmente artificial (apenas como exemplo, podemos citar que Keith, o ex-marido de Beth, nunca surge realmente ameaçador).
Com um roteiro tão falho, ainda poderíamos elogiar alguns posicionamentos de câmera que mostram o esforço do diretor Scott Hicks em ser inventivo, mas a fotografia do filme insiste em uma visão completamente idílica da vida no interior, proporcionando cenas que, mesmo belas, nada acrescentam à trama e ainda promovem uma leveza desnecessária.
“Um Homem de Sorte” poderia ganhar pontos caso não se levasse tão a sério ou caso buscasse mais ênfase no drama do protagonista após passar por batalhas na guerra. Mas o problema enfrentado pelo protagonista, logo que chega aos Estados Unidos, não é só fracamente demonstrado por um Zac Efron ainda cru, como também é esquecido logo em seguida. Cenas e fotografia mais realistas também poderiam fazer da produção algo mais interessante.
Mas apenas tapinhas no bumbum em cenas de sexo cheias de pudor não fazem o filme parecer mais maduro.
Nota: 1 claquete
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