Crítica: Catarina – A Lenda da Loira do Banheiro
Fazer cinema não é fácil. Fazer cinema independente é praticamente um atestado de heroísmo. E somente por isso este filme já merece as devidas congratulações.
Não creio ser arriscado afirmar que a maioria das pessoas no Brasil já conheceu, especialmente na idade escolar, a lenda de que uma loira habita os banheiros das escolas. Dar a descarga três vezes, dizer alguma palavra diante do espelho ou estar completamente sozinho são algumas das variáveis da lenda. Além de utilizar a lenda, herdada dos americanos, que lá a chamam de “Bloody Mary”, o filme “Catarina – A Lenda da Loira do Banheiro“, do diretor Marcos Otero, também se utiliza de algo que se tornou um subgênero dos filmes de terror: o conceito de “found footage”, em que são criadas imagens como se tivessem sido encontradas após a gravação.
Preocupado em explicar detalhadamente as origens da lenda, o filme se rende aos letreiros, mas logo apresenta o incidente inicial da trama, para em seguida mostrar que, cerca de 10 anos depois, Alice procura encontrar a verdade do que aconteceu em sua infância por meio da produção de um documentário, junto com seus amigos que fazem faculdade de Cinema com ela.
Começa, então, o maior problema do filme: ao dizer que foram encontradas imagens gravadas pelos protagonistas, o filme deixa de lado o flashback inicial para mostrar um típico filme “found footage” (vide Bruxa de Blair, Atividade Paranormal e REC, por exemplo). No entanto, as cenas são alternadas entre aquelas gravadas com a câmera amadora e aquelas mostradas pelos “olhos” do diretor, o que cria uma incongruência narrativa. Se não era possível contar toda a narrativa com a palavra “rec” no canto da tela e apenas as imagens gravadas pelos aspirantes a cineasta, a simples ausência do letreiro falando sobre as imagens encontradas já eliminaria o problema, tornando as cenas das câmeras apenas uma escolha do diretor.
Apesar deste grande problema, do exagero de elementos sonoros para mostrar devaneios ou aumentar o suspense, e de cenas sobre as investigações de um psiquiatra (cuja conversa com o médico principal pouco ajuda na narrativa), o filme “Catarina – A Lenda da Loira do Banheiro” possui dois grandes méritos: os bons diálogos com boa química entre os personagens principais, e o elemento mais importante em um filme do gênero: os sustos. As imagens da famosa loira merecem aplausos pela qualidade e capacidade de arrancar gritos do público. Ao mesmo tempo em que se rende a alguns clichês do gênero, o filme também ousa ao brincar com o típico clichê do momento em que os personagens se separam para realizar uma tarefa: quando Ramon explica por que eles não deveriam se separar, e mesmo assim eles se separam, o filme assume sua identidade completamente.
O filme só seria um absoluto “found footage” de suspense e terror hollywoodianesco se tivesse um final com possibilidade de continuação…
…ôps!
Nota: 3 claquetes