Os Miseráveis: pecados e virtudes de uma super produção
Uma imagem vale mais que mil palavras? O diretor Tom Hooper, de “Os Miseráveis” e do premiado “O Discurso do Rei”, parece não concordar com esse ditado popular. Afinal, ele parece simplesmente ignorar todo o trabalho de figurino e de fotografia, raramente vistos no musical. O que é uma pena. Apesar de Hooper, “Os Miseráveis” é excelente. Se vencer o Oscar não será uma surpresa, tampouco um desastre. É um musical que todos devem assistir, apreciar e se emocionar com as canções e interpretações espetaculares de seus atores. Dane-se, Hooper.
É claro que concordo que o diretor explora demais os recursos “grande angular” e “câmera inclinada”, pecados facilmente identificados e apontados pelos críticos. Mas e se ele não abusasse tanto desses recursos? Por que é tão difícil reconhecer o talento de Hooper na escolha e na direção de seus atores? Quem acompanha a carreira de Hugh Jackman desde quando ele deu vida a Wolverine no cinema, realmente sabia que, antes da fama, o ator já havia feito vários musicais de sucesso em sua terra natal (Austrália) e que este seu know how poderia acrescentar tanto nesta adaptação? Quem convenceu Russell Crowe a participar? Quem apostaria numa atriz tão jovem como Anne Hathaway para viver a personagem Fantine? Jackman e Hathaway foram indicados merecidamente. Graças a Hooper. Infelizmente, principalmente para o diretor, esse é o único elogio que ele merece.
Assim que as luzes do cinema se acenderam, meu sentimento foi parecido com o de Nigel, personagem de Stanley Tucci em “O Diabo Veste Prada”. Comemorando antecipadamente com Andy (Anne Hathaway) uma possível promoção, Nigel desabafa: “Da próxima vez, quero vir a Paris e ver Paris”. Bom, graças a Hooper, fiquei 157 minutos tentando ver a Paris do século XIX. Tentando. O longa poderia ter tido o maior número de indicações ao Oscar de todos os tempos, não fosse Hooper (já lamentei isso?). Consequentemente, poderia ser favorito em quase todas as indicações. Não é.
Falando em favoritismo, Anne Hathaway interpretou tão bem a canção “I Dreamed a Dream” que abocanhou todos os prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante para os quais foi indicada até o momento. Nada mais justo, pois o ponto alto de sua atuação na película foi emocionante, simplesmente espetacular e, consequentemente, digna do Oscar. Porém… (meus lamentos estão de volta) Por que Hooper não caprichou no cenário dessa canção em vez de grudar a câmera na cara da miserável Fantine? Sorte de Hathaway que parece não precisar disso, devendo ganhar o Oscar mesmo assim. Mas é realmente uma pena desperdiçar tanto talento numa cena sem cenário.
Eu poderia fazer como tantos e citar aqui mais equívocos de “Os Miseráveis”. Porém, sinceramente, prefiro voltar ao cinema ou comprar o DVD desse maravilhoso musical só para apreciar o que esta obra de arte tem de melhor: suas emocionantes canções interpretadas maravilhosamente bem por seus talentosos atores. Afinal, como disse em meu primeiro artigo no Cinemação (Uma análise do tempo), não procuro filmes apenas pelo gênero de minha preferência. Antes, vejo quem é o diretor, quem são os atores e quem produz a película. Foi ótimo ver um Wolverine duelar com um Gladiador ao som de suas próprias vozes e uma queridinha de Hollywood emocionar como uma Susan Boyle. Melhor que isso só saber que Hooper não aceitou dirigir “Homem de Ferro 3” por conta deste filme. Muito obrigado!
OBS: No dia seguinte a minha ida ao cinema, entrei na Internet para relembrar a interpretação de Susan Boyle, que não só eternizou a canção “I Dreamed a Dream” na mente de milhões de pessoas em todo o mundo, como inspirou o produtor teatral Cameron Mackintosh a levar o musical à telona. “Eu sempre digo que tenho uma grande dívida com ela. Foi um desses grandes milagres que ninguém jamais poderia planejar”, disse Mackintosh ao jornal inglês The Sun. Vale a pena.