Crítica: A Luta Pela Esperança
Russell Crowe é um excelente ator. Este filme de Ron Howard (Uma Mente Brilhante, Anjos e Demônios) é um prova disso, já que Russell Crowe vence as barreiras do roteiro de personagens unilaterais e se destaca durante a projeção.
“A Luta Pela Esperança” conta a história verídica de James J. Braddock, um boxeador que foi à falência total durante o período da grande depressão nos Estados Unidos, mas conseguiu retornar como atleta após uma oportunidade que lhe surgiu, tornando-se assim o que a imprensa chamou de Cinderella Man, o título do filme em inglês. Além de Crowe, o longa nos traz também Paul Giamatti em mais uma de suas incontáveis atuações repletas de nuances e tipos bem criados.
Com o objetivo de chamar a atenção do espectador para a pobreza em que Braddock se encontra após a grande depressão, Howard não hesita em fazer o corte de uma mobília sofisticada cheia de joias para, em seguida, mostrar o personagem sentado em um ambiente escuro de um único cômodo para acomodar a família toda, incluindo os três filhos. Este tipo de corte é utilizado em outros dois momentos do filme: durante uma luta de Braddock, para mostrar o fluxo contínuo de lutas pelas quais passou, e quando sua esposa Mae (Renée Zellweger) abaixa a cabeça diante de um enterro para, em seguida, erguê-la diante de repórteres e fotógrafos.
Mas se a câmera de Ron Howard consegue mostrar dicotomias temáticas, o mesmo não se pode dizer do roteiro quanto aos personagens. O grande problema do filme é ter justamente personagens tão unilaterais. Braddock é o pai de família bondoso que, mesmo em um ambiente cheio de pais problemáticos, esforça-se para ajudar sua esposa a criar os filhos e ainda dá lições de moral ao filho que, na necessidade, rouba um salame do açougue. Se não fosse pelo esforço de Crowe em dar peso aos ombros do personagem, teríamos um “santo” como protagonista. O mesmo pode-se dizer de Giamatti, que além de dar verossimilhança a um empresário que faz vezes de treinador (ou vice-versa), não hesita em demonstrar grande carinho por Braddock ao dar-lhe um abraço, por exemplo.
Até aqui, temos um filme muito bom. Mas infelizmente o roteiro e a direção ainda permitem mais problemas ao filme. No terceiro ato do filme, surge o personagem Max Baer (Craig Bierko). Com pouco tempo para delinear o personagem na tela, o roteiro se dá ao disparate de mostrá-lo como um verdadeiro monstro, que luta violentamente, briga com as mulheres sem motivo algum e ainda chama Braddock de idiota sem qualquer explicação – além de oferecer “consolo” à esposa do oponente por pura provocação. Como se não bastasse a visão unilateral mal feita do “vilão de última hora”, o ator Craig Bierko exagera nos olhos esbugalhados, fazendo uma atuação muito aquém da média de atores deste filme – e aqui, eu critico o personagem, desconsiderando a história verdadeira do boxeador Max Baer, aparentemente mais interessante do que o filme pode mostrar.
Além de tudo isso, o filme se deixa levar por algumas situações clichês, como discursos do tipo “Você será sempre o meu campeão” e um gritinho fino de “Não” quando o personagem principal, muito pobre, pede desculpas à esposa. Aqui, obviamente, eu me refiro à atuação de Renée Zellweger, que parece acreditar que suas lágrimas forçadas e caretas esquisitas são o ápice de atuação.
Ao menos as cenas de lutas são empolgantes.
Nota: 03 Claquetes