O cinema está ficando (ainda mais) caro… e com pouca gente
Eu nunca fui de entender muito de economia, muito menos de falar “economês”. Mas não é preciso ser um especialista para entender que o Brasil está se tornando um país muito caro, e que os impostos são muito altos, especialmente se considerarmos o pouco retorno nos falíveis serviços básicos estatais, como saúde, educação e saneamento básico.
E se as notícias mostram aumento de 4% no preço da gasolina ou 11% no material escolar assustam os mais informados – mesmo com a festejada redução do preço da energia elétrica – o cinema é um mercado que não escapa dos aumentos e também sofre com a reações inflacionárias da economia brasileira, que cresce e faz frente aos gigantes mundiais, mesmo que aos trancos e barrancos.
De acordo com a matéria de Jotabê Medeiros no Estado de São Paulo (Caderno2 de 30/01/2013), os filmes médios nacionais estão custando R$ 5 milhões, tornando nostálgicas as produções de filmes de baixo orçamento de antes, que não chegavam a R$ 1 milhão. A reportagem cita a produtora Lucy Barreto, do filme “Flores Raras”, que será exibido em Fevereiro no Festival de Berlim, e que reclama da alta dos preços, além das cobranças absurdas pelos direitos de tocar músicas nos filmes. A produtora está certa quando lembra que o cinema é um grande difusor cultural, e difundir uma música é algo de extrema importância. Sabemos que o cinema brasileiro não chega perto do cinema norte-americano, que pode transformar uma canção em hit, mas não deixa de ser um bom difusor.
Manoel Rangel, presidente da ANCINE, afirma na reportagem que a alta nos preços condiz com a economia nacional e a atual escassez de mão de obra especializada. A falta de mão de obra não atinge somente o cinema, mas toda a produção audiovisual brasileira. Na matéria de Vinícius Oliveira para o portal iG (23/01/13), a demanda para produção de conteúdo nacional na TV paga vai aquecer o mercado em 2013, mas deve gerar problemas a partir de 2014, quando a exigência de tempo para os canais pagos será de 3h30min diários, o que exigiria muito das produtoras e, consequentemente, da mão de obra, que é considerada insuficiente. Roteiristas, produtores, diretores de fotografia e direção de arte devem estar entre as profissões mais em falta no mercado.
E o Brasil, como país bagunçado e ao mesmo tempo criativo, deve dar um jeito. Uma das saídas pode ser a criação de co-produções com produtoras de fora (e os preços mais baratos nos países vizinhos podem ser um atrativo). Produções baratas e “simples” podem se tornar comuns na TV por assinatura. De forma natural, é possível que aumente a oferta de profissionais, assim como esperamos da qualidade da produção audiovisual.
O cinema tem mestres em inventar. Que sejam também mestres em se reinventar e reinventar o próprio cinema. Apesar dos preços, as coisas devem melhorar.