Crítica: O Hobbit
“NUMA TOCA NO CHÃO VIVIA UM HOBBIT. NÃO UMA TOCA DESAGRADÁVEL, SUJA E ÚMIDA, CHEIAS DE RESTOS DE MINHOCA E COM CHEIRO DE LODO; TÃO POUCO UMA TOCA SECA, VAZIA E ARENOSA, SEM NADA O QUE SENTAR E O QUE COMER: ERA A TOCA DE UM HOBBIT E ISSO QUER DIZER CONFORTO“.
O primeiro parágrafo do livro O Hobbit, escrito por John Ronald Reuel Tolkien já dá uma grande ideia do tom do livro, um local seguro confortável e gostoso de se viver. E se um dia um mago aparecesse em sua porta junto com 13 anões e te tirassem desse conforto? É isso o que você já pode descobrir ao ir assistir O Hobbit nos cinemas. Essa crítica que agora você lê será sobre a história do filme e algumas análises técnicas e escolhas de cenas, mais para frente teremos uma crítica especial sobre a exibição do filme em 48 fps uma nova e inovadora técnica de filmagem.
Após uma breve passagem do diretor Guillermo del Toro, Peter Jackson entra de vez na direção do filme. E isso já é o primeiro grande trunfo do filme. O diretor nos leva de volta à Terra Média, e traz ligações com O Senhor dos Anéis em todos os níveis, desde as trilhas sonoras clássicas, até em algumas peculiaridades.
O filme já começa de uma forma sensacional, na realidade ele começa algumas horas antes do começo de O Senhor dos Anéis, na cena em que Gandalf vai chegando no Condado (lar dos Hobbits) e Frodo vai ao seu encontro. É de arrepiar reencontrar Bilbo (Ian Holm) e Frodo (Elijah Woods) em momentos descontraídos, sem nenhum fardo ou missão de salvar o mundo, e apenas tendo um momento alegre em família enquanto arrumam os detalhes finais de Uma Festa Muito Esperada.
Logo nos é narrada a história da queda do reino de Erabor, nos mostrando a cidade humana de Valle (aliás única cena com humanos no filme) e que ficam ao pé da Montanha Solitária, o maior reino da Terra Média na época. Temos então a primeira das mais belas cenas do filme, onde nos é mostrado uma montanha gigantesca de ouro e ainda dezenas de figurantes caracterizados como anões. A calmaria acaba com o ataque do dragão Smaug, O Terrível. Na cena temos uma escolha narrativa interessante de Jackson, o dragão nunca é mostrado apenas uma rápida silhueta, isso foi feito para manter o mistério que só será revelado no próximo filme, chamado de A Desolação de Smaug. Lá vemos pela primeira vez dois personagens importantíssimos dos anões, Thorin, Escudo de Carvalho, interpretado com uma imponência de um rei e que também demonstra ser um personagem um tanto frio pelo ator Richard Armitage e também o anão Balin (Ken Scott) um velho e narigudo anão que é o braço direito de Thorin.
Após nos mostrar que O Hobbit se passará 60 anos antes de A Sociedade do Anel, temos a primeira visão de Martin Freeman caracterizado como Bilbo Bolseiro. E sem dúvida, depois é claro de Gandalf é o personagem mais legal do filme. Mesmo o filme avançando apenas 6 capítulos dos 19, já podemos ver um avanço no personagem muito intenso. A primeira cena de Sir Ian McKellen, como o mago Gandalf, O Cinzento também é o sinal mais nostálgico e forte do filme. Super a vontade no papel do personagem em que o ator britânico domina tão bem, temos um Gandalf cheio de segredos mas também esbanjando bom humor e até algumas inseguranças.
Logo após temos uma das cenas mais engraçadas e divertidas do filme, com a chegada totalmente inesperada de 13 anões à toca de Bilbo Bolseiro, e toda a bagunça e cantoria que seguem. As canções também são algo presentes nas obras de Tolkien, e que não tiveram muita presença na trilogia O Senhor dos Anéis. No primeiro filme temos 3, sendo a mais imponente a canção Mystic Mountain entoada por Thorin e os anões.
Sem contar muitos segredos do filme, ele segue com cenas de ação sempre bem animadas e cheias de lutas, são 15 personagens, sempre juntos, e vários momentos que mostram a interação dos personagens. Muito legal ver a amizade que é feita entre o Bilbo e o anão Bofur (James Nesbit) e também pelos anões mais novos do grupo Fili (Dean O’Gornman) e Kili (Aidan Turner).
Numa dessas cenas temos um novo flashback agora narrado por Balin e que nos conta um pouco mais da história dos anões após serem expulsos de seu reino, lá é apresentado o vilão Azog, um personagem que só é mencionado apenas no final do livro mas Peter Jackson e seus roteiristas conseguiram anexar ao enredo do filme, assim como diversos escritos nos apêndices apresentados ao final do livro O Retorno do Rei que permitiu uma imersão maior à história e com isso um filme mais rico em detalhes e explicações.
Mas isso também não quer dizer que o filme é 100% perfeito, aliás esses complementos são algo que torna o filme um pouco comprido demais, com algumas cenas que poderiam muito bem terem sido 50% menores e ainda assim ter a mesma intensidade e necessidade narrativa do filme. Cito a cena de introdução do personagem Radagast, um dos 5 Istari (raça de seres celestiais que caminham pela Terra Média – onde também fazem parte Gandalf e Saruman).
Com cenas belíssimas, sensações de nostalgia, e ação desenfreada, O Hobbit é um excelente retorno à Terra Média. Um filme que também mostra um tom narrativo completamente diferente de O Senhor dos Anéis. Pois este foi escrito para o público adulto com uma história onde a salvação do mundo dependia dos heróis, mas já o primeiro nos mostra uma aventura para retomar o lar sem pretensões de escala global, mas não menos importante quanto retomar seu lar e firmar laços de amizades eternas.
O Hobbit, se já assistiu nos diga o que achou, se ainda não, vá imediatamente ao cinema mais próximo.