Crítica: Branca de Neve e o Caçador
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Pelo visto, há uma tendência no cinema de Hollywood em modernizar contos de fadas. Chapezinho Vermelho, Branca de Neve e até uma versão disfarçada de “A Bela e a Fera” já pipocaram nas telas recentemente, seja em romances modernos, comédias ou desenhos infantis recheados de piadas.
“Branca de Neve e o Caçador” é uma boa adaptação e modernização do “conto de fadas” eternizado pela inocência da animação de Walt Disney em 1937. É interessante pensar nos elementos que são diferentes para agradar ao público atual, ou mesmo para reduzir a inocência das versões infantis da história. Com ares de feminismo, a Branca de Neve de Kristen Stewart luta com espada, age ativamente, salva a vida do caçador, e ainda é a “predestinada” para salvar o reino. Apesar dos olhos de “peixe morto” da jovem atriz, seu papel convence o suficiente. Enquanto isso, Chris Hemsworth vive um caçador muito semelhante ao Thor, mas ao menos cria um sotaque mais “rústico” e se esforça para narrar o filme de maneira eficaz.
No que diz respeito a atuações, há de se destacar os anões, que funcionam como alívio cômico e ao mesmo tempo agregam informações para a trama. Mas o maior destaque vai para Charlize Theron, belíssima e poderosa no papel de Ravenna, a rainha má. Poder-se-ia dizer que a atriz exagera nos gritos e expressões, mas talvez um pouco de “over-acting” seja necessário para uma vilã proveniente de histórias antigas “para crianças”.
Com qualidades técnicas excepcionais, como a fotografia das cenas de batalha e da floresta encantada ou a maquiagem de Ravenna (que ora envelhece, ora rejuvenesce), “Branca de Neve e o Caçador” tem cenas de encher os olhos, mesmo em uma narrativa com falhas: o exemplo é a presença de um trasgo que, apesar de interessante e aparentemente inspirado nas criaturas dos filmes de Gillermo Del Toro, não acrescenta à trama.
“Branca de Neve e o Caçador” apresenta falhas ao não explicar como Branca de Neve pode ser tão especial, e ao explicar de maneira muito breve como a rainha má se tornou tão cruel. Em nenhum momento entendemos o que é ou de onde vem o espelho mágico – que não é bem um espelho, apesar de conceitualmente interessante. Quanto à “predestinação” da Branca de Neve, talvez o problema seja quanto à tradução. Se no original a rainha pergunta ao espelho “Who’s the fairest of them all?” (Quem é a mais bela/justa de todos?), a tradução fica como “Existe alguém mais bela do que eu?”. Ou seja, a rainha queria reinar e ser a mais bela e justa do reino, mas com a tradução clássica para o português, fica parecendo que sua motivação é apenas estética – e a beleza é importante, mas o poder e a justiça também contam.
O filme se torna “modernoso” ao fazer do príncipe apenas um coadjuvante, e nunca colocá-lo como alguém mais importante que Branca de Neve – algo que não somente reforça o novo lugar da mulher na sociedade, mas também deixa de valorizar a importância da realeza. Foi também uma boa escolha do roteiro não colocar Ravenna disfarçada de “velhinha”, já que isso soa bastante infantil para um filme de fundo realista. Sem muita explicação, o filme faz referências à fé cristã em dois momentos (“Voltou dos mortos e instiga as massas?”), mas não deixa claro o motivo para isso, o que leva a apenas referências soltas.
Sem nunca ser um filme ruim, e com momentos inspirados, “Branca de Neve e o Caçador” é uma boa adaptação do conto de fadas.
Nota: 03 Claquetes