Nostalgia e novos rumos no Oscar
*também publicado no site Itunotícias

Aos que acompanham as premiações anteriores, é muito difícil ser surpreendido pelo Oscar. As vitórias anunciadas no Teatro Kodak costumam ser bastante congruentes com os prêmios dos sindicatos, o Globo de Ouro e até outros prêmios internacionais.
O filme francês “O Artista” foi o grande premiado da noite. Muitos entendem que o fato de a bairrista Academia premiar um filme francês causa grandes mudanças no cinema. Mas isso é mentira. Afinal, de todos os filmes concorrentes, O Artista é o que mais “bajula” a cultura estadunidense, ao enaltecer os anos de ouro do cinema da época em que “Hollywood” tinha o sufixo “Land” na famosa paisagem.
De qualquer maneira, podemos tirar interessantes conclusões ao analisar a atual situação do cinema e os premiados do Oscar.
Atualmente, o cinema vive um certo dilema de aumento de custos e redução de público nas salas. Ao mesmo tempo em que o cinema como arte sente cada vez mais falta da sala escura, o cinema como indústria sente cada vez mais necessidade de aliar tecnologia à sua maneira de se (re)produzir. O 3D, a era digital e o uso de novas plataformas para fazer e assistir filmes já é o presente, e não mais o futuro. Podemos dizer que o cinema enfrenta uma espécie de “crise de identidade” de quem evoluiu mas pode se perder em meio a tantas novidades.
Quando se entra em crise, faz-se necessário olhar para trás a fim de pensar: quem realmente sou?, o que realmente quero?, aonde realmente vou?
Os principais premiados da noite fazem justamente isso: olham para o passado e se reinventam, em meio a uma enxurrada de elementos metalínguísticos, afinal nada é tão bom quanto usar o cinema para falar do próprio cinema.
Os principais prêmios técnicos foram ao filme “A Invenção de Hugo Cabret” (efeitos visuais, fotografia, direção de arte, edição de som e mixagem de som). O filme de Scorsese realmente consegue usar o 3D e a bela fotografia com maestria e ainda relembra os primórdios do cinema, quando filmes eram feitos com muita paixão e pouco dinheiro.

É como se a Academia estivesse olhando para trás, e refletindo sobre o que deve ser feito a partir de agora. Afinal, ainda há chances de se lutar por mais paixão pelo cinema, de maneira a dar boas vindas às novas tecnologias sem perder a sua essência: fazer magia e encantar.
O vencedor do Oscar de Melhor Animação, Rango, é também uma homenagem a diversas cenas clássicas do cinema, e uma forma de se olhar para o passado.
Talvez seja este o recado que estão tentando passar. Há um clima de nostalgia e saudosismo na premiação, mas quem disse que ser saudosista é ruim?

E mesmo com todos esses defeitos, o Oscar continua sendo incrível e emocionante de acompanhar.
Para ficar melhor, precisam transformar a cerimônia em um espetáculo mais belo, utilizar filmes mais “comerciais” (caso sejam feitos filmes que valham alguma estatueta – O Artista teve bilheteria ínfima), e colocar apresentadores um pouco melhores e novos.
Não basta olhar pra trás, é preciso também, e principalmente, olhar pra frente.