E o Oscar vai para quem?
(publicado também no portal Itunotícias)
Terça-feira, 24 de Janeiro de 2012. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou a lista de indicados ao Oscar do ano. As principais indicações foram cuspidas em um rápido vídeo ao vivo exibido para o mundo todo pela internet. Mais tarde, a lista completa foi liberada.
Apesar de tudo, o Oscar continua sendo a mais influente e famosa premiação de filmes do mundo. Mas precisamos entender que, antes de tudo, é uma premiação dos americanos para os americanos. Justiça, se é que há alguma em premiações, não é o forte da academia.
A partir dos indicados, podemos nos lançar para algumas reflexões sobre o recado que a Academia deseja passar.
Os filmes que mais receberam indicações ao Oscar são opostos e ao mesmo tempo similares: “O Artista”, filme francês em preto e branco e mudo, e “A Invenção de Hugo Cabret”, primeiro filme 3D de Martin Scorsese. Ambos falam do passado e de épocas “que não voltam mais”. O filme francês custou 12 milhões de dólares (barato, mesmo para uma produção europeia), enquanto o de Martin Scorsese custou 170 milhões. Nenhum dos dois vem conquistando uma boa bilheteria, e muitos críticos atestam que estes não “conversam” com o público atual. Algumas estatuetas os ajudariam a aumentar suas cifras.
Filmes como “J. Edgar” (de Clint Eastwood) e “Precisamos falar sobre o Kevin” (com Tilda Swinton) são típicas produções que a academia geralmente gosta, e estiveram presentes nas premiações dos sindicatos e do Globo de Ouro pelas atuações de Leonardo DiCaprio e Tilda Swinton, mas foram esquecidos.
Muitos críticos também sentiram falta de Michael Fassbender na lista de indicados a melhor ator, pelo filme Shame (ainda não lançado no Brasil) – o ator ficou famoso após viver o jovem Magneto em “X-Men: Primeira Classe”.
Nos últimos anos, a lista de indicados à categoria de Melhor Filme conta com até 10 produções. Com isso, cada vez mais filmes terão o “título” de “Indicado ao Oscar”, o que pode ajudar o mercado de Hollywood em curto prazo, mas banalizar a ideia de “indicado ao Oscar” em longo prazo. A presença de dramas tipicamente atraentes para a Academia – como “Tão Forte, Tão Perto” e “O Homem que mudou o Jogo” – se contrapõe, de certa maneira, com filmes-família como “Cavalo de Guerra” e “A Invenção de Hugo Cabret”.
Entre os indicados a “Melhor filme em língua estrangeira”, o iraniano “A Separação” se coloca como favoritíssimo ao prêmio, por motivos políticos (os americanos estão sempre de olho no país de Ahmadinejad), artísticos (o cinema iraniano é sempre elogiado nos festivais internacionais) e comerciais (“A Separação” é de longe o mais bem sucedido e divulgado filme entre os indicados).
Na categoria “Animação”, a ausência de Tintim causa polêmica: podemos considerar a categoria de “motion-capture” (captura das expressões por meio de sensores) realmente uma animação? Por que não? Tirando o filme de Spielberg, a lista de indicados mostra a falta que a Pixar faz quando não produz filmes originais.
Enquanto isso, a categoria de “Melhor Canção” coloca somente dois concorrentes. Com a música do filme Rio composta por Sergio Mendes e Carlinhos Brown, o Brasil nunca esteve tão perto de levar uma estatueta para casa. De alguma maneira, seria como levar um prêmio por não ter nada melhor, o que não é muito mérito.
Com o hábito de premiar filmes por motivos políticos e profissionais por suas “obras completas” em vez de levar em conta somente o filme indicado específico, a Academia de Hollywood se vê com cada vez menos credibilidade. Mesmo assim, o Oscar continua sendo muito importante para o cinema mercadológico, e ainda pode voltar a ter o poder de antes.
A nós, basta entender que o prêmio pode ser divertido, mas não é o único e nem precisa pautar nossas escolhas para filmes.
O resultado será visto na grande festa do dia 26 de Fevereiro.