Chico Buarque e o Cinema: Das Letras Para as Telas - Cinem(ação)
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Chico Buarque e o Cinema: Das Letras Para as Telas

Vamos continuar conhecendo a relação de Chico Buarque no cinema agora nas adaptações.

Chico Buarque

Confome vimos no último texto, Chico Buarque tem uma relação extremamente próxima com o cinema. Além de cinéfilo, fã de Marlon Brando e Kim Novack, Chico esteve presente em dezenas de trilhas sonoras de filmes, nacionais e internacionais.

Mas nem só de trilhas e cinefilia vive Chico Buarque, sua relação com o cinema vai além. Dessa vez vamos nos concentrar nos filme que foram feitos baseados em sua obra, seja ela musical, seja ela literária. Então meus amigos, sentem-se confortavelmente, coloquem o fone no ouvido, coloquem Chico Buarque para tocar e vamos embarcar nessa viagem pelas obras de Chico no Cinema.

Das Músicas Para as Telas

morte-e-vida-severina baseado na obra de João Cabral de Melo Neto e Chico Buarque

Como cantor e compositor é impossível não começar pelos musicais baseados no obra de Chico. Para tanto vamos voltar para o ano de 1977. Foi nesse ano que chegou aos cinemas o primeiro filme baseado na obra de Chico Buarque, Morte e Vida Severina, dirigido por Zelito Viana. O filme é uma adaptação da obra João Cabral de Mello Neto que foi transformada em teatro musical em 1965 por Chico, que musicou os poemas a pedido do diretor de teatro Roberto Freire. O filme tem no elenco José Dumont, Tânia Alves, Elba Ramalho e Stênio Garcia, e conta de Severino (José Dumont), um nordestino que resolve tentar mudar de vida e vai em direção ao litoral e ao sudeste do Brasil, esperançoso de que no caminha não encontre mais a fome, a miséria e a opressão com as quais foi forçado a se habituar. No entanto, sua jornada provará que encontrar um novo começo é muito mais difícil do que parece. O filme é um praticamente um docdrama musical mostrando uma realidade nordestina que ainda infelizmente estamos vendo.

4 anos a mesma obra voltava as telas, só que agora nas telas das TV’s de todo o Brasil. Dirigido por Walter Avancini e exibido pela Rede Globo, o telefilme , Morte e Vida Severina trouxe José Dumont novamente no papel de Severino. Além de trazer de volta Elba Ramalho, agora como a benzedeira Severina, e Tânia Alves, que fez inesquecível interpretação de Funeral de um Lavrador. O telefilme foi um grande sucesso e ganhou em 1982 o Emmy de melhor Telefilme. Confira abaixo a icônica cena e Tânia Alves cantando Funeral de um Lavrador.

Os Saltimbancos Trapalhões

De um musical dramático e adulto vamos para uma comédia infantil. O ano é 1981 e o grupo humorístico Os Trapalhões são um sucesso com adultos e crianças. E naquele ano sai nos cinemas um dos melhores filmes do quarteto Os Saltimbancos Trapalhões, de J. B. Tanko. O filme é baseado na peça teatral Os Saltimbancos dos italianos Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov, inspirada na história Os Músicos de Bremen dos irmãos Grimm. A obra foi adaptada por Chico Buarque para o português em 1977 e montada no Canecão com Marieta Severo, Miúcha, Pedro Paulo Rangel e Grande Otelo. Em 1981 a peça foi adaptada para as telonas por J.B. Tanko e estrelado pelos Trapalhões e Lucinha Lins. O filme conta a história de funcionários humildes, os amigos Didi (Renato Aragão), Dedé (Dedé Santana), Mussum (Mussum) e Zacarias (Zacarias), se tornam a grande atração do circo Bartolo junto com Karina (Luinha Lins) filha do Barão, o dono do circo, refazendo o musical Os Saltimbancos. Mas o sucesso lhes têm um preço: a oposição do mágico Assis Satã e a ganância do Barão. Juntos, os cinco amigos precisarão combatê-los para salvar o circo. Além das canções do espetáculo Os Saltimbancos, o filme ainda conta com canções escritas pro Chico Buarque especialmente para o filme como as clássicas Piruetas e Hollywood.

https://www.youtube.com/watch?v=6xzap4Ysnmc
Os Saltimbancos Trapalhões Rumo a Hollywood

33 anos após a estreia do filme, Os Saltimbancos Trapalhões virou um musical teatral com Didi e Dedé no elenco. Com o sucesso do musical, no ano seguinte foi confirmado um novo filme dos Trapalhões Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood. Lançado em 2017, 36 anos após o primeiro filme, esse não é um remake mas um novo filme, atualizando a história para a atual realidade da maioria do circos pelo Brasil a fora. Com os dois Trapalhões remanescentes, o filme ainda trouxe no elenco um velho conhecidos dos fãs do grupo, o ator Roberto Guilherme, o famoso Sargento Pincel da série. Além dos três o filme trás no elenco Letícia Colin, Alinne Moraes, Marcos Frota e Nelson Freitas no elenco. Dessa vez o filme conta a história do  Grande Circo Sumatra, que está em meio a uma grande crise financeira desde a proibição de animais em espetáculos e Barão (Roberto Guilherme), dono do circo, acaba aceitando fazer leilões de gado, comícios e outros eventos alternativos no circo. Didi (Renato Aragão) e Karina (Letícia Colin), artistas do circo, estão infelizes com a situação e decidem montar um novo número e, assim, tentar atrair o público novamente. Com o retorno dos números musicais do filme de 81, o filme é recheado de nostalgia e fez muito marmanjo chorar na última cena, incluindo o próprio Didi e esse que vos escreve.

A ópera do Malandro

Depois de um drama, uma comédia infantil é vez de uma comédia musical adulta A Ópera do Malandro, de Ruy Guerra. O filme de 1986 é a adaptação para o cinema da peça homônima de 1978, que por sua vez é uma adaptação da Ópera dos Mendigos, de John Gay, e A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill. A peça trazia no elenco de sua primeira montagem Ary Fontoura, Maria Alice Vergueiro, Otávio Augusto, Marieta Severo, Elba Ramalho, Emiliano Queiroz, Neuza Borges e Cláudia Gimenez e foi um grande sucesso de público e crítica. A peça e por consequência o filme se passa no Rio de Janeiro dos anos 40, e conta a história e Max (Edson Celulari) um malandro elegante, que é também uma popular figura do boêmio bairro da Lapa. Ele explora uma cantora de cabaré e vive de pequenos trambiques. Até que surge Ludmila (Cláudia Ohana), a filha do dono do cabaré, que pretende tirar proveito da 2ª Guerra Mundial fazendo contrabando. Além de Edson e Cláudia, o filme ainda trazia no elenco Ney Latorraca, Wilson Grey, os bailarinos J.C. Violla e Carlinhos de Jesus, e o retorno de Elba Ramalho e Cláudia Gimenez repetindo os mesmos papéis da peça.

O Abismo Prateado
Cena de O Abismo Prateado baseado na música Olhos nos Olhos

A próxima adaptação de Chico para o cinema envolvendo uma música não é um musical. Sim acreditem não é um musical, mas um Drama. Tata-se do filme O Abismo Prateado, de Karim Aïnouz. O filme de 2011 é uma adaptação para o cinema da música Olhos nos Olhos, gravada para o álbum Meus Caros Amigos de 1976. O filme foi protagonizado por Alessandra Negrini e conta a história de Violeta (Alessandra Negrini), uma dentista que tem um filho adolescente (João Vitor da Silva) com Djalma (Otto Jr.), com quem é casada há 14 anos. Ela havia acabado de se mudar para um apartamento em Copacabana, e após uma pausa na sua clínica ela encontra uma mensagem na secretária do celular de seu marido, dizendo que está lhe deixando e irá morar em Porto Alegre. O filme faz parte das comemorações dos 150 anos de Caixa Econômica Federal, que preparou uma série de eventos em 2011 e homenageou a obra de Chico Buarque de Holanda. O diretor teve carta branca para escolher qual canção do músico iria adaptar, e escolheu Olhos nos Olhos. O filme estreou na Quinzena dos Realizadores de Cannes em 2011, e no mesmo ano ganhou 4 prêmios no Festival de Havana.

Dos Livros para as Telas

Além de um grande cantor e compositor, Chico Buarque é um grande escritor. Tendo já escrito 8 livros, o artista já ganhou três vezes com o Prêmio Jabuti, o mais importante prêmio da literatura nacional. Chico ganhou o Prêmio Jabuti em 1992 por Estorvo, em 2004 por Budapeste e em 2009 por Leite Derramado. Além disso como já sabemos, que foi o motivo desse série de artigos, Chico Buarque Ganhou o Prêmio Camões 2019. Com tanto sucesso na literatura não demoraria muito para que seus livros virassem filmes não é verdade? Mas na verdade demorou um pouquinho.

Estorvo

Estorvo, o primeiro filme baseado em um livro de Chico, saiu em 2000, 9 anos após o lançamento do livro. Dirigido por Ruy Falcão, o filme é uma produção Brasil/Cuba/Portugal que conta a história de um homem que após uma noite mal-dormida, acorda com a campainha da porta tocando insistentemente. Pelo olho mágico vê um desconhecido de terno e gravata, barba e cabelos longos, que lhe lembra alguém que não consegue identificar. Não sabe o porquê daquele homem estar ali nem quem ele é, mas tem uma certeza imediata: ele representa uma ameaça sua vida. Veste-se depressa, aproveita uma distração do visitante e escapa de sua própria casa. Com a certeza de que o desconhecido está em seu percalço, ele passa a desconfiar de tudo e de todos numa fuga sem destino, que penetra cada vez mais fundo no seu próprio mundo. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Gramado e estreou na mostra competitiva do Festival de Cannes onde não foi bem recebido.

Cena de Benjamim
Cena de Benjamim filme de 2004, com Cléo Pires e Paulo José

4 anos depois, um novo livro de Chico chegou aos cinemas. O filme Benjamim, dirigido por Monique Gardenberg, foi baseado no livro homônimo lançado em 1995. No filme Benjamin Zambraia (Paulo José e Danton Mello), é um modelo fotográfico veterano, viveu um complicado relacionamento em meados dos anos 60. Casualmente, ele conhece a jovem corretora de imóveis, Ariela Masé (Cléo Pires), que parece ser a reencarnação de seu antigo amor. Em uma tentativa de resgatar o passado, Benjamin tenta concenver a moça a morar com ele, pois percebe que Ariela, orfã, deve ser a filha desaparecida de seu grande amor, que foi militante e morreu assassinada pela repressão. O filme foi a estreia da atriz Cléo Pires nos cinemas, que até aquele momento ela ainda era conhecida apenas como a filha de Glória Pires, e tinha feito apenas uma participação no seriado O Memorial de Maria Moura.

Cena de Budapeste
Cena de Budapeste filme de Walter Carvalho lançado em 2009

Em 2009, foi lançado o terceiro filme baseado em um livro de Chico Buarque, e o último baseado em sua obra, Budapeste, de Walter Carvalho. O filme conta a história de José Costa (Leonardo Medeiros) é um bem sucedido ghost writer. Ao retornar do Congresso de Escritores Anônimos, em Istambul, uma ameaça de bomba faz com que seu vôo aterrisse em Budapeste, na Hungria. Logo ao chegar, se apaixona pelo idioma local. Já de volta ao Rio ele reencontra Vanda (Giovanna Antonelli), sua esposa, e o filho. Entretanto sua vida torna-se cada vez mais infeliz, o que faz com que comece a murmurar em húngaro enquanto dorme. Para salvar o casamento Costa passa a escrever autobiografias, numa tentativa de que a vida de outras pessoas o salve do tédio que sente. Seu maior sucesso comercial é “O Ginógrafo”, que conta as aventuras amorosas de um alemão, Kaspar Krabbe (Antonie Kamerling), no Brasil. Só que Vanda se apaixona por Krabbe, acreditando ser ele o autor do livro, o que faz com que Costa sinta-se traído e ressentido com o trabalho que exerce.

De lá para cá nenhuma outra adaptação de Chico chegou aos cinemas. Mas aí você querido leitor me pergunta: ‘Mas e O Grande Circo Místico?’ Pois bem até esse que vos escreve foi pego de surpresa. O filme de Cacá Diegues é na verdade a adaptação do poema de Jorge Lima. Chico e Edu fizeram uma adaptação do poema com Naum Alves Souza para o teatro mesclando música, balé, ópera, circo, teatro e poesia. Já o filme de Cacá adaptou o poema, e não o musical de Chico e Edu para o cinema, embora ele tenha usado algumas músicas do musical no filme.

É meus amigos, tenho certeza que a maioria de vocês não tinham a noção de como a vida e carreira de Chico Buarque esteve sempre tão próximo ao cinema. Mas acreditem: ainda não acabou! Da próxima vez iremos ver uma outra faceta de Chico no cinemas, veremos o Chico Buarque Ator.

Até lá!

Chico Buarque

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